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sexta-feira, 21 de janeiro de 2022

 O extermínio da Juventude negra: as chacinas em Belém como elemento de racismo estrutural.

Josias Alves


Quando acessamos os índices de assassinatos no Brasil, dois indicadores nos saltam os olhos: O primeiro é o número de homicídios que estatisticamente, nos últimos anos está próximos a 50 mil brasileiros mortos por ano, destaque para o ano de 2016, que obteve a marca histórica de 62,517 assassinatos, registrando uma taxa de 30,3 mortes intencionais para cada 100 mil  habitantes. 

Foi a maior taxa registrada no país superando os anos de 2014, com taxa 29,8 e 2015, com 28,9 homicídios para cada 100 mil habitantes, é uma taxa muito elevada o que corresponde a 30 vezes a taxa da Europa. (Atlas da violência 2018, p 03).

  O segundo indicador que nos impacta é quem são as vítimas destes homicídios, que prioritariamente a parcela da população brasileira que mais é assassinada é a população “preta” nos aponta o Atlas da violência que a taxa foi 71.5, No ano de 2016, considerando somente os homicídios da população negra a taxa cresceu  40,2 mortes por 100 mil habitantes, contudo no mesmo período a taxa para a população branca foi de 16 mortes por 100 mil habitantes (2018,p,40), os números evidenciam a desigualdade social que existe no Brasil e o abismo racial que existem, entre negros e brancos.

Queremos aqui, fazer um recorte para determos no extermínio da juventude Negra.

No Brasil quem são  os ínvidos considerados jovens, vamos entender melhor do Prof Dr Luis Antonio Groppo.

Porém o conceito de Juventude não é tão fácil delimitação, os teóricos tiveram no início muita dificuldade em determinar, exatamente quais os critérios, para definir juventude. 

A definição seria etária, bio-psicológica?, qual seria a idade inicial  de juventude 14, 15 ou 17 anos de idade e seu termino seria 24, 25 ou 29 anos? segundo Groppo a definição ficou entre 15 e 29 anos de idade (2016, p.10), a mesma definição usada pelo estatuto da juventude do Brasil. 

usarei neste artigo a definição apontado por groppo e usada no Estatuto de juventudes (Lei no 12.852/2013). promulgada no Brasil em 2013. Contudo, não existe um consenso, mas existem outros critérios para definir o conceito, que não usarei aqui, mas outros pesquisadores que alargam a faixa etária de juventudes de 15 a 32 anos.

Adentrando  no assunto do extermínio da juventude negra nas periferias de nosso país, Há um  abismo existentente entre a população negra e a população branca no que refere as mortes violentas, mostraremos também os números referentes aos jovens, usando os mesmos parâmetros e abordaremos as causas desse processo. 

No ano de 2016, foram assassinados no país 3.590 jovens entre 15 e 29 anos, em sua grande maioria do sexo masculino com taxa de 94.6% representando um aumento de 7,4% comparado ao ano de 2015. Neste mesmo período o Estado do Pará obteve aumento de 15% na taxa de homicídios entre os jovens, nesta mesma faixa etária. (Atlas da violência 2018, p.32). 

A taxa média de homicídios no Brasil entre os jovens em 2016, foi de 65,5% em cada 100 mil habitantes, e no Estado do Pará foi de 98,0% por cem mil habitantes sendo a 7º unidade da federação que mais mata jovens no País.

 Quando comparados os índices de (2006 a 2016) O Estado Paraense obteve aumento 103,7% de homicídios em sua população de jovem em cada grupo de 100 mil habitantes, registrando em 2006, dois mil e setenta e três homicídios (2.073), e no ano de 2016 quatro mil duzentos e vinte e três mortes. (4.223), (atlas da violência 2018, p. 27).

Quando observamos a taxa de letalidade dos jovens entre 15 e 29 anos do sexo masculinos estes números são mais alarmantes elevando a taxa média brasileira para 122,6 em cada grupo de 100 mil habitantes e no tocante ao estado do Pará a taxa é de 181,3 em cada grupo de 100 mil habitantes mantendo a 7º posição do estado da federação que mais vitimou jovens no ano de 2016, ficando acima da média brasileira, notamos que 16 unidades federativas ficaram acima da média do Brasil.(atlas da violência 2018, p.35)

Abordando os homicídios dos jovens e levando em conta somente o universo masculino no período de (2006 à 2016) a média de mortes no Brasil aumentou 23,3%. Enquanto em igual período o estado do Pará aumentou 91,2% ficando 4 vezes maior que a média brasileira.

O Jovem negro no Brasil tem 2,7% de possibilidade de ser vítima de homicídio  que um jovem branco, apontou ainda, que as principais vítimas de mortes letais praticados pela polícia majoritariamente, eram de negros, cerca de 76,2% de um universo de 78% onde não havia identificação de raça e cor, chegaram ao número e depois de analisar 5.896 boletins de ocorrências policiais, os dados são do anuário brasileiro de segurança pública dos anos de 2015 e 2016. (Atlas da violência 2018, p. 41)


“A conclusão é que a desigualdade racial no Brasil se expressa de modo cristalino no que se refere à violência letal e às políticas de segurança. Os negros, especialmente os homens jovens negros, são o perfil mais frequente do homicídio no Brasil, sendo muito mais vulneráveis à violência do que os jovens não negros. Por sua vez, os negros são também as principais vítimas da ação letal das polícias e o perfil predominante da população prisional do Brasil. Para que possamos reduzir a violência letal no país, é necessário que esses dados sejam levados em consideração e alvo de profunda reflexão. É com base em evidências como essas que políticas eficientes de prevenção da violência devem ser desenhadas e focalizadas, garantindo o efetivo direito à vida e à segurança da população negra no Brasil”. (Atlas da violência 2018; p. 41)


Ao debruçarmos nestes elementos enumerados pelo atlas da violência de 2018, são dados que requer atenção acerca da  desigualdade racial no Brasil, e em especial no Estado do Pará onde os indicadores são sempre maiores que a média brasileira. Ao ilustrar o quanto a vida dos jovens negros brasileiros, em especial os Paraenses, estão vulneráveis a sofre violência letal e para corrobora com a análise trazemos dados do Índice de Vulnerabilidade Juvenil à violência 2017, (IVJ 2017) projeto da UNESCO com a Secretaria Nacional de Juventude do Brasil (SNJ).

Segundo o Índice de Vulnerabilidade Juvenil IVJ, no ano de 2015, foram assassinadas no Brasil 59,080 pessoas, deste contingente 31,264 eram jovens, percentualmente 54,1% dos homicídios. Dentre o universo dos homicídios de jovens 71% de pessoas eram negras, ou seja, quase 22 mil jovens negros são assassinados por ano, e deste percentual 92% é do sexo masculino. Toda violência tem o endereço certo, são jovens negros, entre 15 à 29 anos, oriundos das periferias e sem politicas públicas adequadas estão sujeitos a todos os tipos de vulnerabilidades  e consequentemente marcados para morrer sem condições de usufruir de uma vida plena. (IVJ; p.15), corroborando com dados apresentados a cima, mas também trazendo um elemento novo para o debate, o IVJ 

No IVJ 2017, ano base 2015, foi constatado que em quase todas as Unidades da Federação, as negras com idade entre 15 a 29 anos apresentam mais risco de exposição à violência que as jovens brancas na mesma faixa etária. O risco relativo de uma jovem negra ser vítima de homicídio é 2,19 vezes maior do que uma jovem branca. Entre as jovens e os jovens brasileiros de 15 a 29 anos, a chance de um jovem negro ser assassinado é quase três vezes (2,70) superior a um jovem branco na mesma faixa de idade. ( 2017, p.15)


Os dados acima elencados nos aponta a taxa média de um jovem negro ser vítima de homicídio é quase três vezes maior que de um jovem branco e quando transferimos essa mesma possibilidade para o estado do Pará esse risco de vulnerabilidade aumenta para 4,2 vezes mais,  de um jovem negro sofre homicídio em terras Paraenses que um jovem branco. Portanto das 26 Unidades Federativa e mais o Distrito Federal o estado do Pará é a 9º Unidade Federativa mais vulnerável para um jovem negro.(IVJ p 29)

O Índice de Vulnerabilidade Juvenil IVJ, organizou uma tabela demostrando as 304 cidades do Brasil com mais de 100 mil habitantes, fornecendo os índices de vulnerabilidade juvenil e a violência nos municípios e demonstrando qual nível de violência os jovens estão submetidos. E para isso os critérios foram além da violência letal.

Usando os indicadores de educação, emprego, pobreza e desigualdade, violência letal foram divididos entre: homicídios e acidentes de transito. Na educação a percentagem de adolescentes e jovens que não frequentam a escola, emprego é inserção precária no mundo do trabalho, no ultimo item nível de escolaridade, renda e existência de assentamentos precários

Quadro 1: Variáveis selecionadas para compor o IVJ – Violência 2017, Ano base 2015

 

Dimensão Indicador Componentes peso

Violência entre os jovens Y1 Indicador de homicídios na adolescência de 15 a 18 anos IHJ 0,33

  Indicador de homicídios entre os jovens de 19 a 24 anos IHJ1 0,33

  Indicador de homicídios entre os jovens de 25 a 29 anos – IHJ2 0,33

  Y2 Indicador de mortalidade por acidentes de trânsito na adolescência (15 a 18 anos) – IAA 0,30

  Indicador de mortalidade por acidentes de trânsito entre os jovens de 19 a 24 anos – IAJ1 0,30

  Indicador de mortalidade por acidentes de trânsito entre os jovens de 25 a 29 anos – IAJ2 0,40

Frequência escolar e situação de emprego Y3 Proporção de jovens de 15 a 18 anos que não frequentam escola (EMP1) 0,33

  Proporção de jovens de 18 a 24 anos que não trabalham e não estudam (EMP2) 0,33

  adolescentes e jovens de 15 a 29 anos com inserção precária no mercado de trabalho (no total dos jovens ocupados) (EMP3) 0,33

Pobreza no município Y4 Proporção de pessoas com renda familiar per capita inferior a um meio do salário mínimo (POB1) 0,50

    Proporção de pessoas de 25 anos e mais com menos de oito anos de estudo (POB2) 0,50

Desigualdade Y5 Proporção de domicílios localizados em assentamentos precários (aglomerados subnormais) (DESI2) 0,50

  Proporção de pessoas de 25 anos e mais com mais de 11 anos de estudo 0,50


Fonte: (1) Nota: nesta edição do IVJ-V utilizou-se como proxy da variável “domicílios localizados em assentamentos precários’”, a variável “domicílios localizados em aglomerados subnormais”, definido como o conjunto de no mínimo 51 unidades habitacionais (barracos, casas etc.) carentes, em sua maioria de serviços públicos essenciais, ocupando ou tendo ocupado, até período recente, terreno de propriedade alheia (pública ou particular) e estando dispostas, em geral, de forma desordenada e densa.

.O s municípios foram divididos em cinco grupos  denominados a saber:

Baixa vulnerabilidade juvenil a violência( 0,300) 

Baixa media vulnerabilidade a violência ( mais 0,300 a 0,370)

Media vulnerabilidade a violência (mais 0,370 a 450)

Alta vulnerabilidade a violência (mais 0, 450 a 0,500)

Muito alta vulnerabilidade a violência (mais de 0,500)

 No estado do Para faram analisados 15 municípios, sendo os munícipios de Altamira e Marituba ficaram nas lista dos muito alta vulnerabilidade a violência para os Jovens sendo Altamira o segundo(2º) e Marituba o quinto(5º) no ranking  dos dez mais vulneráveis (IVJ2017 p, 53)ao listarmos as trinta cidades com a alta e muito alta vulnerabilidade juvenil a violência encontraremos os três primeiro municípios da região metropolitana Marituba 5ºmunicipio  com muito alta, Ananindeua  15º com taxa muito alta e Belém em 30º com taxa alta, ainda encontraremos dentro desta faixa altamira, Parauapebas e marabá e logo abaixo destas cidades Castanhal com taxa alta de vulnerabilidade a violências de jovens. Mas queremos nos concentrar mais especificamente nos três primeiros municípios região metropolitana de Belém pois entendemos existir elementos que importante para intendermos essa muito alta taxa de vulnerabilidade juvenil, um dos elementos e a ausência de políticas públicas voltadas para juventude destes três municípios, ao pesquisar o plano pluri anual desta cidades notamos que a juventude está totalmente descoberta no que se refere a projetos e politicas voltados para esse públicos isto se falando de toda a juventude o descoso e maior no recorte raça e cor, se não tem nada de verba destinados no ppa não tem como essa parcela da população ser assistida o outro fator de risco que aumenta a vulnerabilidade nas periferias Belém, Ananindeua e Marituba é a atuação da milícia, fazendo papel de uma suposta higienização das cidades    exterminando  da juventude negra nas periferias destes três municípios, pois estes jovens estão fora do padrão normativo da sociedade do ser humano universal.

Foram, portanto as circunstancias históricas dos mediados do século XVI, que forneceram o sentido especifico a ideia de raça. a expansão econômica mercantilista e a descoberta do novo mundo forjaram a base material a partir da qual a cultura renascentista iria refletir sobre a unidade e a multiplicidade da existência humana. Se antes deste período o ser humano relacionava-se ao pertencimento a uma comunidade política ou religiosa, o contexto da expansão comercial burguesa e da cultura renascentista, abriu as portas para o moderno ideário filosófico que mais tarde transformaria o homem europeu no homem universal. (Almeida 2018; p 20)

 E esse homem universal o ideário que permitiu a europeu escravizar os negros porque não eram humanos e sim selvagem nas palavra de Hegel sobre os africanos seriam:

“Sem historia, bestiais e envoltos em ferocidades e superstição”

“As referências a “bestialidade” e “ferocidade” demonstram como a associação dos seres humanos de determinadas culturas/ características físicas como animais ou mesmos insetos   é uma tônica muito comum do racismo e portanto do processo de desumanização que antecede práticas discriminatórias ou genocídios até hoje”  (almeida 2018 p 22 e 23)



E toda essa carga discriminatória ainda em nossa atualidade como herança de 300 anos de escravidão do negro em solo brasileiro, o brasil foi o último país do mundo os negros escravizados, a ausência de políticas públicas para o jovem o extermínio da juventude negra pela milícia é racismo entranhado em nossa sociedade e nas nossas instituições que sempre foram ocupadas por aqueles que forjaram ainda as leis que excluem os negros do processo de construção de igualdade do brasil.

 As chacinas ocorridas na região metropolitana de Belém referentes a juventude negra e periférica que são reflexos deste período escravocrata brasileiro e o racismo entranhado em nossa sociedade, nas instituições mascarado pelo dito combate as drogas, mas que na verdade é um problema estrutural de nossa sociedade que precisa ser levado a sério e debatido por todos e em nossa analise estas chacinas esta relacionadas a essa questão aqui também na Amazônia.

Ao na tarde de primeiro março de 2018 ao acessarmos a internet nos deparamos com a seguinte notícia, em um jornal online da cidade de Belém: “Chacina em Belém. Sete jovens executados na periferia na tarde desta quinta-feira. Segundo testemunhas, eles foram mortos por integrantes de um carro prata”. Carro prata é sinônimo de milicianos em nossa região metropolitana, Antes desta tarde trágica de primeiro de março de 2018, já havia ocorrido pelo menos mais três chacinas na Região Metropolitana de Belém - RMB. 

Uma nos dias 04 e 05 de novembro de 2014, resultando na morte de 10 jovens, em cinco bairros diferentes, das cidades da RMB. Estes, assassinados pelo que se suspeita, por causa da morte do cabo da policial militar Antônio Marcos da Silva, chamado de PET. 

Outra ocorreu no dia 20 de janeiro de 2017, na qual a polícia registrou 30 homicídios, sendo 25 com características de execução. Desta vez, ocorreram em 17 bairros da região metropolitana, em ocorrência novamente após a morte do de um policial militar, agora da ROTAM - Rafael da Silva Costa.

Uma terceira chacina ocorreu em 04 de maio de 2017. Nela, foram executados a tiros 5 jovens no bairro Eduardo Angelim e no Distrito de Icoaraci.

, por fim, E no dia 6 de junho de 2017 foram assassinadas 5 cinco pessoas em um bar no bairro cremação. Todos Jovens negros da periferia mortos com característica de execução em um período curto de três a quatro anos. 

Essas foram as chacinas veiculadas pelos jornais. Mas todo dia tem jovem negro sendo assassinado na periferia e nos finais de semanas os números aumentam. Agora mesmo, este ano carnaval 2018 em 6 dias foram assassinadas 78 pessoas na Região Metropolitana de Belém. Em sua grande maioria morte de jovens homens negros da periferia. Esses números demonstram a existência de uma grande desigualdade racial na região metropolitana de Belém e as chacinas  um instrumentos medidor do racismo estrutural existente nos municípios de Marituba, Ananindeua e Belém, pois não existe nenhum registro de chacinas nos bairros nobres de Belém como Nazaré, nunca se foi noticiado que a milícia ou carro prata que costumeiro associar tenha invadido um condomínio de luxo e tenha assassinados vários jovens brancos e afortunados de nossa cidade, o que notamos é a impressa encobrindo algum delito acometido por jovens da classe alta  como foi o caso  do crime de trânsito cometido filho Romulo Maiorana Jr que embriagado e em alta velocidade bateu em cinco carros e vitimou duas pessoas uma jovem de 19 anos e um senhor que foi socorrido mas não resistiu aos ferimentos e feio a óbito( Lucio Flávio pinto , a agenda amazônica de um jornalismo em combate em 27 de setembro de 2018) os grandes jornais de circulação da cidade nada noticiaram encobrindo tal acontecimento. 

Mas as mortes dos jovens negros nas periferias são noticiadas não como denuncia, de modo sensacionalista e com desdém, e estes meios de comunicação, noticiam afirmando sempre que a morte desses jovens são acertos de contas e fica por isso mesmo. Mas os jovens negros estão gritando por socorro nas periferias e seus pais, quando ainda os tem, estão chorando suas mortes. Parece-nos que a escravidão ainda não terminou em nosso país. Os negros vivem jogados nas senzalas deste mundo moderno.

Acostumamo-nos a ouvir que não existe racismo no Brasil. O pior é que acreditamos. Mas o que todos esses vitimados na periferia da Região Metropolitana de Belém têm nos mostrado é a existência de um   racismo velado? Um genocídio da população negra que muitos não querem enxergar.

 A situação é tão alarmante que não tem como ignorar: os números estão aí para que todos vejam e façam suas análises.  Será que não existe um grande problema no Brasil que não diz respeito somente ao negro e à negra?

 Existe e diz respeito a toda a nossa sociedade brasileira. Porque não é algo que se resolve com uma simples política pública! Não que elas não sejam importantes, já que seria um começo de reconhecimento das enormes desigualdades existentes. Mas, de fato, é preciso que se reconheça que existe um problema de racismo ‘mascarado’, que é muito grande, que é estrutural em nossa sociedade e que está enraizado em nossa história. É preciso fazer discursões amplas, fóruns e combates maciços, neste sentido, para descontruirmos esse problema fundante no Brasil.

Pedro Borges 2017

40 mil pessoas ao ano são assassinadas de um único grupo racial, que a população carcerária 61,6% é composta por esse mesmo grupo racial e que em estados como Acre e Amapá esse número passa 80%, segundo a FIOCRUZ 65,9% das mulheres mortas por violência obstétrica compõem esse mesmo seguimento esses números colaboram para a construção daquilo que os teóricos chamam de genocídio negro no Brasil.

o Atlas da violência 2017 aponta que entre 2005  2014 mais de 318 mil jovens foram assassinadas no Brasil.  Somente em 2015 foram 31.264 jovens 92% são homens, na faixa de 15 a 29 anos. 

A cada 100 pessoas assassinadas no Brasil 71 são negras. Segundo o Atlas, os negros têm 23,5% chances de serem assassinados, em relação a outras raças no país. A taxa de homicídios de pessoas negras aumentou 18,2% entre 2005 a 2015, enquanto, no mesmo período, a taxa de homicídios de não negros diminui em 12,2. 

Entre as mulheres, este mesmo fator se repete 4.621 mulheres foram assassinadas em 2015, com uma taxa de 4,5 mortes por cada 100 mil. Mas quando se faz o percentual por raça, no âmbito feminino, entre 2005 a 2015, houve um crescimento de mortandade de 22% de mulheres negras e uma diminuição de 7,4% de mortandade de mulheres não negras, neste mesmo período, como aponta a pesquisa do IPEA.

Os números do IPEA corroboram com o artigo de Pedro Borges, no sentido de que existe sim uma violência sistêmica, com a qual é acometida a população negra, em especial os jovens de periferia; que também existe uma desigualdade racial enorme entre brancos e negros, presente no país. Uma desigualdade estrutural, que é marca incontestável da nossa história de escravocrata, refletida, ainda hoje, no que Borges chama de eugenia, ou seja, o desejo de branquear o Brasil.

Para Borges 2017, esse processo de branqueamento se dá por diversas vias de violência, que são utilizadas contra a população negra, como: o extermínio de jovens negros e negras; o encarceramento em massa da população negra; a política de guerra às drogas, em que o negro é o traficante; as violências sofridas por mulheres negras no sistema de saúde; e o apagamento das produções culturais e acadêmicas de e sobre a população negra.  

Não se pode mais adiar essa discursão no país. Os números mostram que há um sistema de eliminação da população negra, em curso, no Brasil, que afeta de modo especial os jovens negros. Como já foi comentado acima, este problema afeta a todos e deve ser pauta de toda a nossa sociedade brasileira. Precisamos arrancar as raízes dessa exclusão social e desse genocídio. Devemos quebrar as correntes que ainda prendem a grande maioria da população brasileira que são os negros e as negras do nosso Brasil. Não precisamos desta herança maldita da escravidão, ainda hoje marcando os corpos de negros e negras deste país.

 Adão 2017 sua dissertação de mestrado “Territórios de morte: raça e vulnerabilidade social na cidade de São Paulo” nos diz que o genocídio de negros e negras no Brasil não é algo pontual, fatídico, mas um processo construído historicamente. As políticas de exclusão do pós-abolição, que prejudicaram o acesso da população negra aos recursos da sociedade como terra e o mercado de trabalho, articuladas a segregação social e urbana, construíram as bases das condições de extermínio. É um processo que não findou, visto que as periferias configuram-se como territórios de produção e reprodução de morte.

Nas palavras do poeta: nego nago

Balas perdidas 

Onde tem balas perdidas?

Bala perdida na cidade é coisa de perifa 

As balas perdidas da cidade sempre encontram um corpo preto 

As balas perdidas da cidade sempre encontram um corpo jovem 

As balas perdidas da cidade sempre se alojam no corpo pobre

As balas perdidas da cidade quando se encontra, uma vida se esvai 

A bala perdida entra a vida sai, quando ele chega na perifa há sempre um corpo que cai

É mesmo bala perdida?

Nego nagô.(blog viajando nas ideias, nego nagô pejoteiro)


Bento e Beghim 2005 nos falam que há uma equação bem conhecida, conjugação perversa de diversos fatores tais como:

Racismo, pobreza, discriminação institucional e impunidade contribuem para a falência do sistema de segurança e justiça, em relação à população negra. Essa relação não é fruto do acaso: distorções como a “presunção de culpabilidade” em relação aos negros resultam em ações que promovem a eliminação pura e simples dos suspeitos, violando direitos humanos e constitucionais desses jovens. Ações que tão recorrentes e banalizadas denunciam a esse processo silencioso de eliminação desse grupo da população (BENTO e BEGHIM, 2005

Na Região Metropolitana de Belém retrata-se bem essa realidade que sente se vê a em nível nacional. Os assassinatos destes jovens negros na periferia da metrópole nos mostram que o resultado da discriminação escravização, ocorrida no passado se faz muito presente, mantendo uma cadeia de discriminação naturalizada também aqui na Amazônia.

O Pará tem uma das cidades mais violentas do país que é Altamira segundo o mapa da violência 2018, mas as cidades da RMB não ficam longe. Esta região paraense espelha e é retrato dessa herança da qual a professora Adão  fala: Uma herança escravista que legitima um processo ativo de preconceitos e estereótipos raciais e que mantém os privilégios dos brancos governantes da nação, além da permanência das desigualdades. 

Essa questão é fundante da herança do racismo e notadamente um problema estrutural, e (não se pode falar de caso fatídico e de fato isolado. Dever-se fazer um amplo debate e processo de desconstrução dessa herança escravista, para termos parâmetros de igualdades e garantias de direitos iguais, fazendo com que os iguais sejam tratados como iguais e os desiguais tratados como desiguais para termos uma nação coesa e verdadeira. Beghin  destaca outras consequências, causadas pela discriminação e desigualdade racial:

por um lado, naturaliza-se a participação diferenciada entre negros e brancos nos vários espaços da vida social, reforçando a estigmatizarão sofrida pelos negros, inibindo o desenvolvimento e o potencial de suas habilidades individuais e impedindo o usufruto da cidadania por parte  dessa parcela da população brasileira, a qual é negada a igualdade de oportunidades que o país deve oferecer a todos. Por outro lado, o processo de exclusão vivido pela população negra compromete a evolução democrática do país e a construção de uma sociedade mais coesa e justa. Tal processo de exclusão fortalece as características hierárquicas e autoritárias da sociedade e aprofunda o processo de fratura social que marca o Brasil contemporâneo. (BEGHIN apud: IPEA políticas sociais – acompanhamento e análise, 11/ago/2005) 

O mais trágico de todo esse processo de discriminação, da qual a Região Metropolitana de Belém é um retrato fiel desta triste realidade, é que a maioria destas mortes não tem investigação e não se chega a seus executores, como se estas vítimas fossem pessoas de segunda categoria, sem importância e, talvez, nessa lógica, nem sejam pessoas. Esse pensamento está tão incutido no pensamento da grande massa da população, que se ouve muitos dizerem que foi apenas mais um, ou que bandido bom é bandido morto. Mas nunca se quer realmente saber o que houve. A maioria destes casos fica sem solução na justiça, exemplo disso é que de todas as chacinas acimas elencadas somente a de 2014 é aquela que está com o processo avançado, tendo dois ex-policiais militares já condenados pelas mortes dos nove jovens. O restante das mortes está impune. 

Há uma enorme tarefa de empoderar os negros e as negras para este trabalho de abrir frentes de debates amplos para com a sociedade brasileira, a fim de que se reconheça o racismo estrutural. Chamar todos para a discursão desse grande problema e garantir os direitos desses brasileiros e brasileiras, que foram sempre excluídos por esse processo histórico.

Muito já se tem avançado nesse sentido, mas precisamos dar passos mais fortes e mais largos para esta efetivação. Sempre movidos pela e na esperança de um país justo e coeso para todos, onde as oportunidades não sejam determinadas pela cor da pele. Ouve-se muito dizer que não há raça negra ou raça branca e que o que, de fato, existe é o ser humano. Isto, no fundo é verdade, porém, enquanto não forem equalizadas as desigualdades e as diferenças  entre negros e brancos, existe sim raça negra (a raça, enquanto existir a desigualdade?). Ela precisa de uma vez por todas ser incluída no projeto de nação, por esse país tem muitas contribuições advindas dos povos africanos, dos quais vieram os negros e as negras que foram traficados para cá e aqui construíram a riqueza de nosso Brasil. Agora, seus descendentes têm o direito de usufruir dos benefícios dessa riqueza, para que negros e negras possam viver sem medo e com dignidade.

Considerações finais 

Os números nos mostram a existencial de um abismo racial no Brasil fruto de uma desigualdade racial que o País deve primeiro reconhecer a existência, para poder procurar soluções para o problema que desde o início como estrutura de nossa sociedade, herança de um passado escravocrata.

O estado do Pará como parte da federação trás impregnado a mesma estrutura racista, precisa urgentemente reconhecer como pauta prioritária como uma a busca de soluções eliminar do estado a estrutura de necropolitica como pratica, pois é latente   a desigualdade racial existente no Estado, chamando para a discursão vários atores de nossas sociedades e principalmente os jovens negros com atores desta tomada de decisão já que os índices dos estados e maior que a média brasileira 

Não tem como negar que tanto no Brasil quanto na região metropolitana de Belém existe uma pratica de extermínio das juventudes negras que precisa ser pautada seriamente.

As chacinas da região metropolitana de Belém é claramente um elemento de racismo estrutural existente na região como herança do período escravocrata e com berço forte da presença europeia na região. não podemos fechar os olhos para essa realidade, é continua na estrutura das cidades da região metropolitana a mesma pratica do coronéis onde os negros só tem direito a trabalho e chicote, trazendo para realidade de hoje os jovens pretos da periferia de Belém só tem direito a fome, trabalho e bala.

estamos parece no tempo do império onde a maior parte da população eram de pretos escravizados e sem direitos, hoje os jovens negros são a maioria dos Jovens desse pais e ainda vivem sem direitos só lhes falta os grilhões. 



Bibliografia 

ADÃO, Claudia Rosalina. Territórios de morte: homicídios, raça e vulnerabilidade social na cidade de São Paulo. A luta contra o racismo no Brasil/ org. Dennis de Oliveira. São Paulo: Edições Fórum, 2017.

GROPPO, Luís Antônio, Juventudes, sociologia cultura e movimentos 2016

ALMEIDA, Silvio; O QUE RACISMO Estrutural 2018,

INSTITUTO DE PESQUISA ECONÔMICA APLICADA, IPEA. BENTO, Maria Aparecida Silva: BEGHIN, Nathalie. Juventude Negra e Exclusão Radical in Políticas Sociais, acompanhamento e análise. 2005

MOURA, Clovis. Dialética Radical do Brasil Negro. 2º edição. São Paulo: Editora Anita Garibaldi, 2014. IBGE. Síntese de indicadores sociais: uma análise das condições de vida da população brasileira 2010. Rio de Janeiro. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, 2010.

PINTO, Lucio Flávio, a agenda amazônica de um jornalismo em combate do dia 27/09/2018 

BORGES, Pedro https://www.almapreta.com/editorias/realidade/existe-genocidio-negro-no-brasil

 

Atlas da Violência 2018

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IVJ – Índice de Vulnerabilidade Juvenil à Violência 2017 ...

www.forumseguranca.org.br/.../indice-de-vulnerabilidade-juvenil-a-violencia-2017-d...


Atlas da Violência 2017 mapeia os homicídios no Brasil - Ipea

www.ipea.gov.br/portal/index.php?option=com_content&view=article&id...

viajando nas ideias

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G1 - Chacina em Belém completa dois meses e famílias pedem justiça ...

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Operação da polícia falha em dia de 7 mortes na RMB - Polícia | DOL ...

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Jornal Hoje - Belém registra a quarta chacina do ano com cinco ...

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quinta-feira, 5 de setembro de 2019

Era um preto.

Era um preto, mas uma vez, era um preto como muitos outros nas periferias do Brasil, sem antecedentes criminais que no final acaba com o corpo estirado ao chão.

Era um preto, apenas um preto
mais um no Rio de Janeiro, mais seis, mais doze, mais cem mais mil ,são milhares de corpos pretos estirados no chão sem piedade e sem perdão em todo Brasil.
E pretos, não importa se são  inocentes ou não.
Era um preto, não te incomoda não, era apenas mais um preto.
 é no Rio, é no Pará, e no Ceará ,e aqui, e ali, e acola' chega!!!! ate onde  Brasil isso vai, muitos corpos negros  estirados no chão basta de exterminação












 ao chuí é extermínio de pretos que estão muitos a aplaudir e outros não tão nem aí.

era um preto um miserável preto, exterminaram pretos em 1500 e sempre continuaram a exterminar em 1600 em 1700 em 2019 tem milícia especialista em exterminar porque não bastava a policia militar.
era um preto, eram dois pretos. eram três, pretos ........ eram mil pretos, eram apenas pretos. até quando será que vidas pretas continuarão a tombar????? era um preto.

VIDAS PRETAS IMPORTAM


CHEGA DE EXTERMÍNIO DE VIDAS PRETAS.
Liberdade







Nós os socialista somos uma classe de pessoas chatas, acreditamos que existe liberdade e acreditamos que o melhor modelo politico é a democracia, e por esse ideal queremos que todas as pessoas sejam livres e que participem da vida do país nos indicativos de sua direção.
acontece que nem todas as pessoas querem liberdade e nem todas as pessoas querem decidir o rumo do País, pois ser livres requer responsabilidades e tomadas de decisões por vezes nada fáceis. o que a grande maioria quer é segurança e tranquilidade, e por vezes os empobrecidos vivem numa situação tão precária que o que pedem não é a liberdade mas um padrinho poderoso e benevolente. para estes a liberdade parece luxo inútil e a proteção do patrão uma necessidade de sobrevivência, quem tem necessidade de comer não espera liberdade, busca a ajuda de algum protetor.
mas o que é realmente ser livre, na verdade liberdade apesar de estar desde de sempre no anseio e no sonho humano, por esse ideal já foram feitos filmes belos como o filme " um sonho de liberdade" foram escritos livros, poesias e já encorajaram homens e mulheres lutarem em guerras contras tropas muito maiores que as suas e as vencerem, mas no final percebe-se que liberdade é apenas um ideal humano.
porque em muitas vezes um país democrático é mais perverso para seu povo que um rei tirano, visto que em um país democrático as leis é o limite da liberdade do cidadão, todos deveriam ser iguais perante a lei,ou seja, todos somos de certa forma escravos da lei e está é nosso limite.
a lei é um senhor muito severo, com todos que a inflige, acontece que em um pais como o nosso onde a senhora a Justiça não esta de olhos vendados para todos, ela esta de olhos vendados e punhos cerrados para os pobres e negros da periferia mostrando o rigos de seus julgamentos e o cumprimento da lei, para uns poucos ela esta de olhos abertos e benevolente agraciando com favores, um filme retrata bem isso " o meu nome não é Johnny" . 

segunda-feira, 12 de agosto de 2019

Não se pode botar vinho novo em odres velhos.(Mateus 9,17)

Quero fazer uma reflexão pessoal de algo que me inquieta muito da igreja da faço parte a Igreja Católica Apostólica Romana. ( ICAR.)
Imagino eu que muita gente não vai gostar contudo vou me manifestar.
Tenho ressalvas em algumas coisas na Icar, mas o modo como se exerce a autoridade dentro da igreja me afeta por demais, pois é uma autoridade que não sabe dialogar, e nunca soube na verdade, a história esta cheia de exemplos Martinho Lutero é um, o filosofo Giordano Bruno queimado na fogueira é outro, Galileu Galilei teve que se retratar para não morrer e tantos outros, contudo não posso generalizar nem todas, as autoridades são assim é claro,existem uns poucos que se salvam, porém a grande maioria o é.
O modo como é organizada a estrutura da igreja não poderá produzir leigos adultos na fé, as autoridades precisam entender que os tempos mudaram, que os cristãos de hoje querem participar de modo efetivo da vida da igreja na busca da construção do reino de Deus, não somos mais o publico dos anos 70 na sua grande maioria analfabetos que não tinham condições de ler a bíblia e interpreta-la, até mesmo por falta de manuseio por causa que somente a pouco tempo tinha se liberado a bíblia para o manuseio do povo, que aconteceu somente em 65 no vaticano ll, antes disso ficava na mão dos sacerdotes que fizeram muitas coisa com ela, mas o que menos fizeram e que ela fosse fosse fiel ao evangelho de cristo.
Mas hoje quase todo mundo ler, tem informações, na igreja tem leigos teólogos, pedagogos, Filósofos, geógrafos, Jornalistas e tantos outros que doam seu tempo, participa de formação litúrgica, bíblica, catequética, mistagógica da vida igreja para que na horas das decisões importantes sermos tratados como se fossemos cristãos de segunda categoria, porque não temos sacramentos da ordem, muitos em vez de dialogar ainda falam quem ta falando é o padre! quem ta falando é o bispo, ora por acaso este sacramento da ordem é mais importantes que os outros que recebemos? os deixaram mais iluminados que os outros cristãos? por acaso não somos pelo batismo todos sacerdotes, profetas e reis? ou isso na verdade não vale?
Nós somos o vinho novo queremos de fato participar da vida da igreja para que ela exerça sua finalidade e essência que a evangelização, para isso tem que revestir seus odres, porque com velhas praticas esta se perdendo o vinho, muita gente saindo indo pra outras igrejas e o odre se perdendo entrando na disputa do mercado das religiões.
Sem mudar o autoritarismo e velhas praticas tudo vai se perder. precisamos de mais diálogos, as autoridades precisam cuidar com mais respeito os leigos melhorar as estruturas para formar cristãos autênticos e adultos na fé, onde, a vivencia cristã seja mais importante, onde as pessoas saibam que a igreja não é um super mercado da fé que conforme meu estado de espirito eu vou na pratilheira e pego a solução para aquele momento, porque é isso muitas paroquias estão fazendo para não perder o status ko, mas essas praticas estão nos levando para longe de nossa essência e do evangelho de Cristo, e para tentar competir no mercado das religiões infantilizando os cristãos,e exercendo a autoridade a ferro e fogo.
E tudo que peço é mais dialogo e respeito as historias das pessoas, e que cuidemos da essência da Igreja que a razão do seu existir que é a evangelização e já ser aqui, sinal visível do Reino de Deus.
somos vinho novo esses odres estão prontos para nos receber?
Josias Alves

terça-feira, 4 de junho de 2019

A experiência do ressuscitado (Jo 21 ,1-19)
Eram dias difíceis para aqueles homens que três anos e alguns meses atrás decidiram deixar as redes pois eram pescadores, não eram os melhores pescadores é verdade, pois nem o mar, eles tiveram o privilégio de conhecer, o que eles chamavam de mar era um na verdade lago, contudo eram pescadores de lago; no entanto pescadores deixaram suas barcas, suas famílias e foram atrás Jesus de Nazaré, olha que Natanael já tinha alertado ( de Nazaré pode vir coisa boa [Jo 1 46]) mesmo assim seguiram aquele andarilho, até mesmo Natanael foi junto, era muito bom, tinha sempre um grande grupo conversava-se bastante, tinha algumas mulheres que andavam também com ele coisa nova, mulher andar com mestre (Lc 8,2-3), comia e bebia na casa de pecadores, (Lc19,1-10) as autoridades religiosas diziam este homem não é sério, mas o povo adorava ele, fazia milagres. Curava o povo, (Mt , 3-13) acolhia com carinho o povo e até matou a fome da multidão algumas vezes, (Jo 6, 1-15) tudo isso aqueles homens acompanhavam de perto ele os chamava de amigos, mas depois últimos acontecimentos tudo mudou.
Ah! Aqueles últimos acontecimentos foram frustrantes, começou até bem em um grande banquete comeram beberam, gargalharam (Jo13,1-35), mas já no vim houve um desentendimento entre o mestre e judas este último saiu da festa e tudo começou traiu jesus e o vendeu por algumas moedas a quem diga que foram 30 de prata,(Mt 26, 14-25) o certo e que prenderam Jesus e houve uma brigalhada todo mundo ia para o mesmo destino ,as ele o mestre interveio e todos ficam soltos( Jo 18,8-9), Pedro o segui-o mas na hora de confirmar que era amigo dele negou três vezes, bem que ele tinha avisado ( tu es meu amigo Pedro este respondeu que sim, ele disse na hora de que apertar as coisas tu me negaras) e não foi exatamente isso que aconteceu,( Mc 14, 26-32) condenaram Jesus, fizeram ele carregar uma cruz pelas ruas o crucificaram e todos os que andavam ficaram olhando de longe.
Só tinha uma coisa a fazer voltar pra casa tudo acabou, até houve um boato que ele tinha ressuscitados, as mulheres disseram (Jo, 20 1-10), mas sabe é a vida, mulheres veem coisas, se ele ressuscitou porque não apareceu aos homens, aparecer para mulher, deve ser delírio, de certo que o sonho acabou, foi muito bom legal mas acabou.
Estavam lá aqueles homens desolados pensando o que fazer, mas não tinha muita escolha só sabiam fazer uma coisa pescar, até que um tomou a decisão eu vou esquecer essa bobagem e vou voltar a fazer aquilo que eu sei e disse vou pescar, abandonar este tal Jesus foi apenas mas um e desta vez nós fomos na onda, os outros por não saberem fazer outra coisa aceitaram o convite e falaram: é não tem jeito mesmo nós vamos contigo, entraram na barca e foram lago, nem pescaram direito ficaram saudosos distraídos lembrando das caminhadas, lembrando do mestre passaram a noite toda não pegaram um único peixe também pudera distraídos do jeito que estavam só se o peixe pulasse dentro da barca.
Já pela manhã cansados com fome, com sono voltando para beira ainda aparece um homem na praia e grita: ei tendes peixe Pedro responde não temos não pescamos nada! Ele diz joga a rede ai ao lado da barca – Pedro retruca olha senhor pescamos a noite toda estamos cansados e não pegamos um peixe – novamente o homem fala jogai a rede – Pedro diz joga logo esta rede se não vamos ficar o dia todo com esse querendo nos ensinar a pescar e diz ao homem nós ficamos a noite toda pescando não pegamos nada mas em atenção a tua palavra vamos lançar as redes,
Jogaram ao puxar as redes sentiram pesadas tamanha era a quantidade de peixe que não conseguiam puxar as mesma chamara outro barco para ajudar, então João disse a Pedro é o senhor , respondeu não é possível e João afirmou é sim imediatamente Pedro se vestiu e lançou se ao lago para ver logo o senhor, ao chegar a praia já estava acessa a fogueira, jesus pediu os peixes que segundo Joao eram 153 grandes peixes que as barcas tiveram dificuldade de puxar, mas nesta hora Pedro foi lá sozinho pegou as redes tirando forças não se sabe de onde trouxe as redes pegou alguns peixes deu a Jesus que assou e distribuiu e todos comeram e ficaram pensando não é que as mulheres tinham razão, mas, ninguém teve coragem de perguntar se era o senhor porque depois deste experiência de encontro pessoal e de partilha (eucaristia) ninguém tinha dúvida que era o Jesus de Nazaré porque o seguimento do Senhor se dá na partilha do pão e foi justamente esta experiência que os animou e impulsionou o anuncio da boa nova

Josias Alves

terça-feira, 12 de setembro de 2017

um conto qualquer.

         Desde menino era muito falado, alguns diziam que ele tinha gênio ruim,
era de pouco sorriso, de fala severa e cego de um olho mais enxergava mais do que devia seu mome era Bené, ainda quando criança foi fazer uma brincadeira com a irmã mais velha que estava contando orisso de castanha do pará, ao chegar de mansinho por trás a irmão ao levantar o fação para cortar o orisso lhe furou o olho por isso era cego.  
         Mas de uma coisa ninguém podia falar de Bené, que esse era preguiçoso, pois não era, era homem dado ao trabalho acordava cedo para botar seu roçado, roçava, derrubava, queimava, encurvairava, por volta das três descia para pescar no rio, ou esperava a noite para se por em seu muitá afim de caçar, muita lhe faltou o que comer e nem o que beber, mas era homem sem ambição, homem simples, ao dezessete anos saiu da casa dos pais e fez sua própria casa, simples de varedas embariadas e cobertas com cavaco casa com quarto cozinha e sala tudo muito simples. 
        passar os anos nesta vida Bené casasse com Ana vinte um anos linda, brejeira, morena cabelos cachiados caídos pelos ombros mais ou menos um metro e sessenta e cinco corpo esbelto de sorriso fácil que Bené agora com 27 anos havia conhecido há uns seis meses atrás em uma festa no vilarejo vizinho, naquele arasta pé ficaram juntos e vinham se encontrando desde então ate o dia que decidiu fugir com ele para sua casa. nos primeiros dias embriagados pela paixão e pelo impeto da juventude qualquer faísca pegava fogo e se amaram como nunca em todos os cantos da casa, ao sair para trabalhar ele, ela nunca se cansava de esperar sozinha por seu amado, como um vulcão pronto para entrar em erupção ao menor toque de amor, como uma grande fogueira que faz fogo grande que faz fogarel  mais que ao queimar as madeiras o fogo diminui, assim se deu com os dois amantes no passar de dois anos, a espera dela por ele agora parecia longa, seus corpos não se encontravam mais tanto como no inicio, agora tudo era diferente.
             Certo dia Bené saiu de casa mas não foi trabalhar resolveu tomar uma na taverna de seu Joaquim, Jogou conversa fora, tomou como a tempos não fazia e foi justamente lá que descobrira que alguém visitava todos os dias sua mulher, quando alguém perguntou como estava saúde de Ana, e que seu irmão vinha visita-la todos os dias logo cedo, Bené não dissera nada pois Ana era filha unica ao chegar em casa por volta das três da tarde, pegou seu fação uma lima e um esmeril e ficou a tarde toda a amolar, deixou pronto e avisou a mulher que ia sair cedo para ir pescar, ao amanhecer pegou seu utensílios de pesca e saiu, e se escondeu na mata, esperou por volta de meia hora depois de sua saída, passou o Ricardão, ele aguardou pacientemente por alguns minutos só então se encaminhou para sua casa, a cada passo parecia que sua perna pesava uma tonelada, seu coração acelerava acima do normal, entrou na casa pois a porta estava aberta caminho lentamente pelo corredor em direção ao quarto ao entrar viu os dois nus trasando em sua cama, ao perceberem sua presença com o fação na mão deram um baita pulo e um tremendo grito de medo, e Bené -  falou então é isso que tu faz todas as manhas na minha casa? 
Ana- Bené pelo amor de Deus não faz uma loucura, não me mata.
Bené - era isso que eu devia fazer, mais não vou fazer não, seria muito fácil isso. tu vai embora gora. e caba safado feio aqui atras dela agora tu vai levar, se não quiser eu mato os dois, e tu vai morar com ela se tua larga dela vou lá e te mato, tu não querias ela agora vai levar. pra fora os dois agora não pega nada do jeito que estão, e mais uma coisa Ana se tu voltar em minha porta eu te mato e depois mato a ele. e rapaz tem mais uma coisa se algum dia eu souber que bateu nela eu vou la e te mato entendeu bem e os dois saíram nus e nunca mais voltaram naquele lugar. Depois de anos Bené casou novamente e teve quatro filhos dois homens e duas mulheres.
          

sábado, 17 de junho de 2017



Resultado de imagem para imagens de anjos negros com pe no mundo





O Reino de Deus, a Igreja e o Mundo. 

Apesar do tema posto acima não sou um magnífico escritor e muito menos especialista em nenhum dos conceitos para falar com propriedade sobre este tema, mas como cristão da teologia da libertação me desafio a fazê-lo, como reflexão pessoal, sem muito interesse teológico. Poderia então usar da poética para falar do assunto, mas também não sei fazê-lo, de maneira a deixar os leitores boquiabertos à espera do próximo parágrafo (verso)Na verdade, tenho até ‘certa inveja de pessoas que escrevem com extrema facilidade, que conseguem prender o leitor no texto, por exemplo. Isto, para falar de pessoas comuns que escrevem assim. Tenho inveja de um amigo, o Jornalista Eraldo Paulino, que tem contos boníssimos, em que tu vais lendo e queres logo que chegue a próxima parte para saber o que vai acontecer. Para falar dos grandes escritores imortais da literatura mundial gosto muito FiodorDostoiévski, Agatha Christie, Dan Brown, Dalcídio Jurandir, José Saramago, Erico Veríssimo, da vontade de matar de tão bem que os caras escrevem. 
Mas vamos ao que interessa ... Quando que participo de algum encontro de formação da ICAR (Igreja Católica Apostólica Romana), com formadores bons, sempre saio com a cabeça fervilhando de ideias e muitas vezes questionando certas práticas dentro da mesma. Estive a pouco em uma atividade e sai de lá muito reflexivo com que ouvi. Mesmo porque penso que sou de uma ala da igreja chamada de teologia da libertação, que, no atual contexto, é uma minoria, já que na ICAR, atualmente, o que prevalece é uma igreja mercado da fé, onde as pessoas correm atrás de milagres e curas para si e somente para si. Sendo assim, sua devoção e sua fé devem ser retribuídas por Deus com aquisição de bens materiais é uma manifestação vazia de sentido. Não sei, sinceramente, se podemos chamar a isto de espiritualidade. Refiro-me a ala neopentecostal da ICAR, com sua teologia da prosperidade.  
No referido encontro, estávamos tentando entender qual a missão da Pastoral da Juventude dentro da igreja hoje e o nosso facilitador iniciou dizendo que a igreja é uma anciã que vem de longe, de muito longe. Mas de onde vem a igreja? Muitos, no afã de dar esta resposta, dizem que ela vem de Abraão, outros dizem que vem do início do mundo dando alusão ao Gênesis, outros ainda dizem que vem de Caim e Abel. Masnada disso se faz verdade. A igreja é uma anciã que vem de Deus. Ela é mistério e é constituída pela vontade de Deus, fruto de um projeto trinitário de Deus. Ela é sacramento, sinal visível da vontade de Deus e seu mistério, mas ao mesmo tempo a igreja é humanaporque historicamente ela é dirigida por homens iluminados por Deus. Esta mesma igreja tem dois fatores de renovação um é teológico e o outro cronológico. 
Teologicamente, quem renova a igreja é o Espírito Santo de Deus, que dá vigor e novos ares e que mantém a igreja viva até os dias de hoje. Jácronologicamente a igreja é renovada pela juventude que traz a novidade e o vigor que ela sempre precisa. Mas, como todos sabemos, a igreja também é filha de seu tempo e reflete dentro de si os problemas da sociedade e, muitas vezes, é mudada por isso. 
Concordo plenamente com facilitador do encontro, que disse: a igreja, em seu inícioera um sinal visível da vontade de Deus, verdadeiramente expressão de sua vontade. Entendo, porém, que também algumas alas da igreja continuaassim, sendo suscitadas pelo Espírito Santo de Deus. Não me atrevo a dizer que seja minha ala, mas espero profundamente que ela seja uma delas. Como penso também que a igreja, desde seu início, nunca foi uma só: existiam várias igrejas. Contexto em que algumas dessas igrejas foram se afastando da vontade de Deus, já no começo da caminhada, e impondo sua vontade sobre a vontade das várias comunidades constituídas. 
O Livro de Atos dos Apóstolos nos diz que os cristãotinham tudo em comum e, por trezentos anos, a maioria dos cristãos vivia esta espiritualidade da comunidade, da partilha e do amorAs comunidades tinham suas dificuldades, mas a grande expressão de fé se dava a partir daí. Mesmo assim, ouve um ‘para pra acertar’ as coisas, com o Concílio de Jerusalémem que Paulo e sua equipe queriam uma coisa e Pedro e sua equipe queriam outra. Vemos claramente aquique não existia uma, mas duas igrejas: uma mais aberta e acolhedora e a outra mais fechada e excludente, já que deixava algumacategorias longe dos serviços e da palavra. E não se acertaram aqui não! Conclusão, falaram para Paulo: ‘Nós te autorizamos a pregares para fora (pagãos- gentios) nós ficamos como sempre, com os Judeus e nossas práticas’. E assim continuaram durante mais ou menos 300 anos, sendo perseguida a igreja das catacumbas, das reuniões em família, do catecumenato e muitas pessoas dando a vida por causa do projeto de Deus: os mártires da igreja primitiva. Podemos denominar de a primeira fase das igrejas, das três que vou apontar mais a frente. 
segunda fase se dá quando a igreja passa ser a religião oficial do império. Mas não foi assim de uma só vez. O primeiro passo para acontecer foi a decadência do Império Romano no início do século II. Os bárbaros ameaçavam a invadir o império, e os cristão cresciam em grande número, mas e se recusam a servir o Império Romano voltando a ser perseguido. Percebendo a força crescente da religião, o imperador Constantino I resolveu usá-la politicamente para fortalecer seu próprio poder e enfrentar a decadência romana. 
Sob a inspiração do lema “um Deus no Céu, um Imperador na Terra”, Constantino proclamou em 313 o Édito de Milão, lei que garantia liberdade para cultuar qualquer deus, o que seria fundamental para a futura conversão total do império à religião. Na prática, o Édito de Milão representou uma verdadeira guinada. O cristianismo se tornou a religião oficial do Império Romano no ano 380 por ordem do imperador Teodósio I, que tomou a medida numa lei conhecida como Édito de Tessalônica. Aproveitando a força da nova religião do império e força que ela tinha para mandar os cristãos para fronteira do império agora cristão, para defender a fé contra os hereges, mantendo-se como imperador. 
Neste período vemos uma igreja voltada para o Poder e a luxuria, que passa de perseguida para se tornar perseguidora. Tanto poder que a igreja se vê em um longo período sem a força do Espírito Santo. O que valia era a força política. Um papa tinha tanto poder que podia colocar ou derrubar um rei com a força de sua palavra e de seu exército. A igreja se tornou também uma instituição muito rica. Temos aqui, neste período, o endurecimento da igreja com os dogmas, as cruzadas, as guerras santas, acaças às bruxas. Foi justamente neste momento que três coisas que não podiam se confundir foram confundidas, a saber: Reino de Deus, Igreja e Mundo. 
O Reino de Deus é o seu projeto de amor e expressão maior de sua vontade para toda a humanidade, onde não há pré-conceito e nem diferenças. É tudo aquilo que Deus sonhou para a humanidade, no seu desejo de o ser humano seja plenamente feliz. 
Igreja é, como já foi explicado acimasinal e sacramento de Deus.  
Mundo todos nós conhecemos. Tem muitas coisas criadas por Deus tantas outras criados por nós seres humanos. Muitas das coisas criadas por nós são da vontade de Deus, outras não. Mas tudo isso é expressão de nossa liberdade 
Além da igreja, há outras expressões de Deus e outras religiões, onde Deus também pode se manifestar. Mas a hierarquia da igreja, cega por tanto poder e tanta riqueza, confundiu a igreja com o Reino, pensou que a igreja era igual ao Reino e fez muita coisa em nome de Deus que hoje temos certeza que abominava, como as cruzadas e a perseguição de muitas pessoas e instituições. Queria, assim, implantar no mundo todo e a todos, o modo de ser da igreja-poder. Ao mundo, não pode dar outra coisa. Houve muita resistência e muita morte. Foram quase mil anos em que a humanidade mergulhou numa profunda crise.  
Mas a pergunta que fica é: a manifestação de Deus não houve? Claro que sim! Deus sempre se manifesta. A vida religiosa foi a responsável de uma ruptura da igreja como símbolo do poder, para uma igreja vontade de Deus. Podemos pensar em várias pessoas como esta expressão de Deus, como São Francisco de Assis, Jordano Bruno, Santo Inácio de Loiola, São Domingos de Gusmão, Santa Teresinha, Madre Teresa de Calcutá, São Luis Orione e tantos outros santos e santas, que mantiveram presente o Reino de Deus neste período todo. Além de milhares e cristãos e cristãs anônimos e anônimas que foram sempre fiéis ao Reino Deus.  
Novamente os ventos sopraram dentro da igreja tirando as poeiras e dando novo ar, e chamamos de Vaticano Segundo, João XXIII e depois, Paulo VI. Este é o início do terceiro período da igreja. Mesmo com muita resistência, até hoje não vivemos todas as mudanças propostas, embora tenha demonstrado grande avanço. 
Somente o fato de João XXlll convocar o Concílio causou primeiro choque. O simples evento conciliar agitou as aparentemente tranquilas águas eclesiais. Toda a Igreja se mexeu, desde as congregações romanas até os fiéis lá na base longínqua. Dois anos de preparação já anunciavam a turbulência que iria acontecer na aura conciliar. Enquanto as comissões pré-conciliares, formadas basicamente a partir da conservadoríssima cúria romana, elaboravam os documentos preparatórios, grupos progressistas preparavam material inovador. 
As sessões do Concílio tornaram-se a arena em que essas duas tendências se defrontaram ao longo das quatro sessões. Pouco a pouco, a linha progressista se firmou hegemônica e conseguiu rejeitar praticamente todos os documentos preparatórios, menos um, e influenciar predominantemente na redação dos novos textos. Os conservadores, porém, conseguiam apenas inserir neles adversativas de cautela. Assim, a redação final resultou aberta com discretos toques conservadores. No primeiro momento, depois do Concílio, atravessou a Igreja alentado sopro de renovação no campo teológico, moral, disciplinar e institucional”, nos diz o saudoso Pe. J. B. Libânio em um artigo. 
A eclesiologia deslizou rápido para a cristologia. Aliás, o próprio Paulo VI afirma categoricamente: “É Cristo, Cristo que é nosso princípio, Cristo que é nosso caminho e nosso guia; Cristo que é nossa esperança e nosso fim”. Ou ainda: “Possa esse Concílio ter plenamente presente ao espírito esta relação entre nós e Jesus Cristo, entre a Igreja santa e viva que somos, e Cristo, de quem vimos, por quem vivemos, para quem vamos. Relação múltipla e única, imutável e estimulante, cheia de mistério e de clareza, de exigência e de felicidade”. E de maneira bem incisiva, continua Paulo VI: “Que sobre esta assembleia não brilhe nenhuma outra luz senão Cristo, luz do mundo. Que nenhuma verdade retenha o nosso interesse afora as palavras do Senhor, nosso Mestre único! Que uma só inspiração nos dirija: o desejo de lhe sermos absolutamente fiéis! Não tenhamos outro apoio senão a confiança nascida de sua promessa e que tranquiliza a nossa fraqueza irremediável: ‘E agora eu estarei convosco sempre até o fim dos séculos’”. 
A Igreja só se entende a partir da atitude fundamental de Jesus. Movido pela paixão pelo Pai, Jesus anuncia e realiza, por meio de sua pessoa, de pregações e de ações, o Reino de Deus, que consiste fundamentalmente no serviço ao mundo. “Pois o Filho do homem veio, não para ser servido, mas para servir e dar a vida em resgate pela multidão” (Mc 10,45). A Igreja não existe para si, mas para servir o mundo. No espírito de Jesus, situam-se os eixos do Concílio Vaticano II. E deveria ser sempre assim! Mas a Igreja é humana. Teve avanços significativos (Libânio aponta alguns), mas teve também retrocessos. Vamos aos avanços. 
A Palavra de Deus está no centro 

O Concílio marcou o primado absoluto da Palavra de Deus de várias maneiras. Simbolicamente, organizou-se procissão de entrada da Bíblia na aula conciliar. Ela ocupava aí lugar de destaque. A presença de evangélicos convidados servia de acicate contínuo para dialogar com eles a partir da Palavra de Deus. João XXIII estabeleceu a dimensão ecumênica como fundamental para as discussões e documentos conciliares. 
O Concílio não hesitou em afirmar sem rebuço que “ele se põe à escuta da Palavra de Deus para proclamá-la como anúncio de salvação a fim de que o mundo inteiro, ouvindo, creia, crendo, espere, esperando, ame” (Dei Verbum, n. 1). E, de fato, os textos conciliares se impregnaram da Palavra de Deus. O Decreto Optatam Totius sobre a formação sacerdotal, chama-a de “alma de toda a teologia”, instando que os alunos se empenhem em seu estudo (Optatam Totius, n. 16). Sem dúvida, após o Concílio, a Igreja se modificou radicalmente em relação ao papel da Escritura na sua vida em todos os níveis, desde os círculos bíblicos populares até os estudos aprofundados em exegese. A Escritura impregna a liturgia e a espiritualidade. E cresce a prática da leitura Orante da Escritura. 

A base batismal igualitária do Povo de Deus 

No início da Igreja está o batismo. Nele, todos somos iguais. Antes, portanto, de qualquer distinção de ministério, grau ou hierarquia, está o Povo de Deus, que, no projeto de Deus, vai além da própria Igreja: toda a humanidade chamada à comunhão com a Trindade. Cada fiel batizado antecipa a plenitude final da Igreja. E o batismo nos conduz à Eucaristia. Lá todos participam do mesmo Cristo. Enfim, o mesmo Espírito Santo habita em todos. O leigo, pelo batismo e pela Eucaristia, tem plena cidadania eclesial com amplo espaço de iniciativa, liberdade, autonomia, participação, gestação de espiritualidades próprias. Na América Latina, assistimos a tal acordar dos leigos, sobretudo nas comunidades eclesiais de base - CEBs - com ministérios próprios, a que Paulo VI alude na Evangelii Nuntiandi. 

Toda Igreja é participação 

Em íntima articulação com a base laical(,) batismal e eucarística, lentamente se anuncia e se constitui uma Igreja de participação em todos os níveis, superando a rigidez tricêntrica: Roma, diocese, paróquia. A colegialidade em todas as esferas, a sinodalidade, os diversos tipos de conselhos exprimem a riqueza desse novo espírito eclesial nascido do Concílio. Todos somos Igreja e, quanto mais participamos, mais Igreja somos. Conquista irrenunciável da verdadeira Igreja, já bem distante das afirmações de Pio X no sentido de dependência. 

A Igreja existe para o mundo fora dela 

A Igreja do Vaticano II levantou a cabeça da sua interioridade e viu em volta de si cristãos de diferentes Igrejas. Uns mais próximos, como os ortodoxos, e outros mais distantes, como as denominações pentecostais e neopentecostais. O olhar avançou e encontrou os irmãos em Abraão. Outras religiões apareceram no horizonte. E mais longe, em termos religiosos, contemplou a humanidade nas alegrias e esperanças, nas tristezas e angústias. Com todos pretendeu dialogar. Invade toda a Igreja o imenso desejo do diálogo com os protestantes, com os judeus, com as outras religiões e com os não crentes. Todos seres humanos. Todos tocados pelos problemas do mundo de hoje. Tudo isso interessa à Igreja do Vaticano II, que para cada um desses grupos expressou seu pensar e propósito de ação em diferentes documentos. A maior novidade veio com a Constituição Gaudium et Spes, em que a Igreja reconheceu a autonomia das realidades temporais, terrestres, ao renunciar os últimos resquícios da cristandade e ao pôr-se a serviço de toda a humanidade do mundo moderno. 
Mas, a meu ver, ficou uma coisa, que é um peso muito grande para a igreja, herança de Constantino. Ela continua na igreja até hoje: o clero. Nos diz José Comblinque até Constantino, ou seja, no primeiro ciclo da igreja, na igreja primitiva não havia distinção entre pessoas sagradas e pessoas profanas. O que chamamos hoje de o clero e os leigos não existia. Eram todos leigos, pois Jesus se separou da classe sacerdotal e não tinha previsto nenhuma maneira para que aparecesse outra classe sacerdotaljá que todos são iguais em sua proposta. Mas Constantino inventa e ainda separa do povo, como uma classe dos especiais. Para Jesus toda pessoa é sagrada, então não há necessidade de separar as pessoas. Com essa separação, nasce o clericalismo. 

Participando dessa mesma preocupação temerosa de perder a concepção hierárquica da Igreja, julgada de direito divino, insinuou-se certo espírito clerical. O medo principal consistia em ceder o lugar de destaque dado ao clero para os ‘leigosupervalorizados’, com um suposto prejuízo para o número das vocações sacerdotais. A exterioridade e a relevância atribuídas ao clero sofreriam detrimento e seu reconhecimento social seria diminuído por força da promoção dos leigos. Tal percepção reforçou o clericalismo durante e depois do Concílio 
Digo que o clericalismo só busca o poder e o apoio ao poder em todas as suas formas. Mais que nunca é visível isso em nossa igreja, enquanto o seguimento a Jesus e seu evangelho vai na contramão do clericalismo, renunciando ao poder e a toda forma de dominação. Porém, nem tudo está perdido. Mais uma vez, na contramão da historia, o sopro de Deus. Ainda dentro do Concilio do Vaticano ll, um grupo de bispos da América Latina faz um pacto, chamado de pacto das catacumbas, no intuito de viverem de acordo com o projeto de Deus revelado na pessoa de Jesus e no seu evangelho. Ali se comprometeram a viver pobres em suas dioceses e depois priorizar em todas as suas atividades o que é dos pobres. Além de animarem a Conferência de Medellin, aqui na América Latina. É justamente neste período que nascem as CEBs, as Pastorais Sociais e, um pouco mais pra frente, a Pastoral da Juventude. Tudo isto fruto desse sopro de Deus. 
Passando o período inicial do Vaticano II, com Paulo VI e João Paulo I, os dois próximos papas vão fortalecer o clericalismo, os dogmas da igreja e combater a forma de se fazer igreja na América Latina, defendendo que a igreja é divina, é de Deus. Mas parte dela é humana, muito humana e muito distinta do Reino de Deus e do evangelho de Jesus. 
Por exemplo, quantos sacramentos Deus deixou? Sete, cinco? Pois bem, até o século XII se discuti se eram 10, 5, 7, 9, 4. E não havia acordo, até que finalmente decidiram que era sete. Olhemos o que nos escreve Comblin: “mas há coisas que visivelmente já não falam para as pessoas de hoje. Por exemplo, o sacramento da penitência com confissão a um sacerdote. Quantos se confessam atualmente? Há 20 anos, eu atendia na Semana Santa, em uma paróquia popular, 2.000 confissões, e o pároco outras tantas. Atualmente, 20, 30, ou seja, as pessoas já não respondem mais. Isso foi definido no século XII, XIII. Por que manter algo que já não tem nenhum significado e, ao contrário, provoca muita recusa? Ou seja, que alguém necessite falar com alguém, que o pecador goste de falar com alguém, mas não justamente ao sacerdote. Há muitas pessoas, muitas mulheres, que podem exercer esse ofício muito melhor, com mais equilíbrio, sem atemorizar como fazem os sacerdotes. Isso é uma coisa. Mas há um monte de coisas que é necessário revisar porque não têm futuro. É inútil querer defender ou manter algo que já é obstáculo para a evangelização e que não ajuda absolutamente em nada. Nas liturgias há muitas coisas que mudar. A teoria do sacrifício foi introduzida pelos judeus, naturalmente. No templo se oferece sacrifícios, os sacerdotes são pessoas sagradas que oferecem o sacrifício. Toda essa teoria, atualmente não significa absolutamente nada. Que o padre seja dedicado ao sagrado para oferecer o sacrifício e que a Eucaristia seja um sacrifício, tudo isto vem de Jesus? Ah, não vem de Jesus. Então, é preciso ver se isso vale ou não vale. Para que manter algo que não vale? E depois há também a outra parte: o que não ajuda, o que tem sido infiltração de outras tendências, outras correntes.”  
Não sou eu que digo, mas concordo plenamente com ele. Há muito de (...) na Igreja e poucos que vivem o projeto. Como ele mesmo diz, uma minoria abraamica. Quero dizer que a igreja mudou tanto que ela  aparece ser mais dos homens, pois ela está longe, muito longe do Reino e do seguimento de Jesus. Com essa onda de clericalismo eu diria que o mundo tem muito mais coisa de Deus do que a própria igreja e reafirmo, sem medo de errar, estamos longe e muito longe do Reino de Deus. 


Nego Nago.