Quem sou eu

Minha foto
eu sou aquele que não sou mas que sou ao mesmo tempo, que voa mas que anda quando voa, sou finito no infinito, sou a vida na morte e sou o tudo e o nada eu sou aquilo que vc ama mas que odeia eu sou um ser humano.

quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011

"a pastoral da juventude esta em crise"

“A Pastoral da Juventude esta em crise...”
                                                                                                                          

                                                                                                                             Pe. Hilário Dick, jesuíta
Para quem trabalha com jovens e, especificamente, com a Pastoral de Juventude do Brasil espalhada pelas dioceses e comunidades de todo o Brasil é, no mínimo, desafiador ouvir dizer, em várias geografias, que “a Pastoral da Juventude está em crise”. Atrevemo‐nos, aqui, a perguntar: O que é estar em crise? Alguém se diz em crise p.ex. quando perdeu referências e se “encontra perdido”. Um outro está em crise no relacionamento com alguém p. ex. a esposa. Já não sabe mais se a ama. Um terceiro pode estar em crise porque aquilo que lhe dava sentido, não está dando mais sentido de vida. Sonhava ser engenheira e descobre que a engenharia não é para ela. A falada crise da Pastoral da Juventude é crise de quê? É uma crise dela, na sua identidade, ou outros estão em crise com relação a ela por causa da identidade que ela, a Pastoral da Juventude, desejaconstruir?
A juventude, considerada como uma determinada faixa etária, está em crise por sua própria ontologia. A juventude é crise porque é passagem, transição, descoberta, construção, busca de coerência, fome de novidade. Miserável o jovem que não navega no mar da crise. A Pastoral da Juventude, feita de jovens, com jovens e para jovens tem obrigação de estar mergulhado em crise. É o que os jovens mais
experimentam, na Igreja e fora dela. O que pode estar em crise, contudo, não é a juventude, mas meu relacionamento com ela. Os grupos de jovens podem estar andando muito bem, na sua forma de viver sua fase crítica, assim como os grupos de jovens podem ser questionados por
alguém “de fora”, impondo‐lhes ou querendo impor‐lhes determinada forma de enfrentar a crise.
Se os jovens ou uma entidade formada por grupos de jovens conseguiram traçar um caminho sério, suado, discutido e construído de diferentes formas, procurando torná‐lo real, e aparece alguém de dentro deles, isto é, do conjunto amoroso, autêntico e organizado deles, e lhes diz “por aqui não convém ir”, “que tal se tentássemos prosseguir por este outro caminho”, estes jovens vão entrar em crise? Não. Vão
buscar outra saída, em conjunto ou decidir que o caminho antigo ainda é o mais acertado. Se, no entanto, aparece um outro de fora do círculo de suas relações, carregando consigo forças coercitivas, autoritarismo, incompreensão, postura de quem sabe o que é certo ou errado, e lhes
diz “por aqui vocês não podem ir”, “vocês tem que encontrar outra forma de serem vocês mesmos” etc. estes jovens vão entrar em crise? Sim.
A crise, no entanto, não é deles; a crise é daquele que veio “de fora”, fazendo de tudo que pode com sua autoridade e seu poder que a crise dele se tornasse a crise dos jovens. Alguém é “de fora” quando não se sabe colocar, junto com os jovens, num caminho de busca. Alguém é
“de fora” quando decide sem perguntar nem discutir nem amar nem perdoar. Alguém é “de fora” quando se coloca como alguém que se julga dono de alguma coisa, seja ela povo de Deus ou Pastoral da Juventude. Alguém é “de fora” quando atira em cima dos outros a sua própria crise pondo os outros não em crise, mas em polvorosa. Nesse sentido podemos dizer que a Pastoral da Juventude não está em crise, está em
polvorosa: estão‐lhe atirando, na pele, camadas de pó ou de mofo que incomodam e dificultam sua existência porque achava que este pó ou este mofo eram coisas do passado. Tempos passados a nossa querida Igreja institucional também viveu a sua crise e a enfrentou muito bem.
Infelizmente, uma das coisas que aconteceu em 1968 foi não a morte da Ação Católica, mas a Ação Católica Especializada (JEC, JUC, JOC, JAC...) postas em polvorosa... por falta de compreensão, amor e perdão aos jovens. Pôr em polvorosa alguém pode ser uma forma sutil de matar usando instrumentos piedosos que todos sabemos identificar.
Não estamos negando que a Pastoral da Juventude não tenha problemas; que a Pastoral da Juventude não tenha e esteja cometendo erros na sua caminhada; que a Pastoral da Juventude precisa criar outros caminhos ou voltar à trilhas mais ortodoxas. Isso, contudo, precisa acontecer num espaço de liberdade e de construção; não num espaço de coerção. Em nome da ortodoxia ou em nome da autoridade não se sabe de quem, com a justificativa esfarrapada de que “a Pastoral da Juventude está em crise” estão‐se cometendo
barbaridades que num contexto mais evangélico deveriam ser chamadas de “pecados”. O que se fez com algumas lideranças juvenis, dentro da Igreja atual, não tem outro nome: pecado! E os únicos a perdoarem este pecado é o Espírito Santo manifestando‐se na juventude. Estamos
vivendo em época de Pentecostes na Igreja e na Pastoral da Juventude. Qual o pecado que a juventude cometeu que merecesse as atitudes ignorantes e grosseiras que se vêm aqui e acolá? Infelizmente temos que repetir: quem está em crise não é a Pastoral da Juventude, mas algumas figuras da Igreja institucional com dificuldade de relacionar‐se com o novo que o Espírito exige através das buscas, dos erros e da
generosidade de muitas lideranças juvenis que começaram a aprender a ser a Igreja que Deus sonhou. Em vez de tentar vislumbrar o novo brotando das camadas endurecidas e seculares de uma Igreja que é convidada a ser a juventude do mundo, tem‐se a desfaçatez de afirmar em coro desafinado que “a Pastoral da Juventude está em crise”...
Neste coro discordante não estão somente pastores mas figuras do laicato, do clero, de instituições, de pastorais, de religiosos e religiosas e de conselhos ou Assembléias de todos os tipos. Se “a Pastoral da Juventude em crise”, ela se localiza aonde? Na proposta pedagógica, no seu Marco Doutrinal, na sua Espiritualidade, na maneira de compreender e analisar o fenômeno juvenil, nos assessores e
assessoras que acompanham os milhares de grupos de jovens espalhados pelos Brasil, no miserável dinheiro que gastam nas suas andanças com vontade de construir felicidade? Houve um tempo que se dizia que “a Pastoral da Juventude não rezava”; houve um tempo em que se dizia que “a Pastoral da Juventude era um segmento do PT”; houve um tempo em que se dizia que “a Pastoral da Juventude fugiu do controle
dos pastores” etc. E daí? A Pastoral da Juventude tem uma proposta global e clara de doutrina, de pedagogia, de espiritualidade; a Pastoral da Juventude tem uma proposta abarcando assessores, lideranças, manifestações massivas, escolas de liturgia e de bíblia; a Pastoral da Juventude carrega consigo o sonho bonito de uma Igreja que afirma optar por ela preferencialmente; a Pastoral da Juventude está em todo
canto querendo construir um cidadão e uma cidadã sujeita de sua história. Quem não vê isso? É claro que os que afirmam que “a Pastoral da Juventude está em crise” não querem ver isso. Não vão vê‐lo até o dia em a vida pastoral se tornou tão monótona que nenhuma novidade mais floresce no jardim. Melhor: em vez de flores, o jardim estará cheio de ovelhas submissas, muito bonitas mas que, em vez de dizer amém,
gritam unissonamente um solene “béee...” Estamos escrevendo isso ao mesmo tempo em que nos debruçamos um pouco sobre uma questão fundamental da Pastoral da Juventude: a formação na fé dos jovens. Aí vai a experiência da Escola de Educadores de Adolescentes e Jovens, de Goiânia; aí vai um artigo
bonito sobre o aspecto pedagógico da formação dos jovens; aí vai um artigo lindo de um velho batalhador da Pastoral da Juventude na Itália chamado Ricardo Tonelli; aí vai um artigo sobre a juventude no Primeiro Milênio; aí vão várias notícias que mostram um pouco do iceberg da beleza que se constrói no campo juvenil. Será que o Espírito nos fará reencantar pela juventude?