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sexta-feira, 21 de janeiro de 2022

 O extermínio da Juventude negra: as chacinas em Belém como elemento de racismo estrutural.

Josias Alves


Quando acessamos os índices de assassinatos no Brasil, dois indicadores nos saltam os olhos: O primeiro é o número de homicídios que estatisticamente, nos últimos anos está próximos a 50 mil brasileiros mortos por ano, destaque para o ano de 2016, que obteve a marca histórica de 62,517 assassinatos, registrando uma taxa de 30,3 mortes intencionais para cada 100 mil  habitantes. 

Foi a maior taxa registrada no país superando os anos de 2014, com taxa 29,8 e 2015, com 28,9 homicídios para cada 100 mil habitantes, é uma taxa muito elevada o que corresponde a 30 vezes a taxa da Europa. (Atlas da violência 2018, p 03).

  O segundo indicador que nos impacta é quem são as vítimas destes homicídios, que prioritariamente a parcela da população brasileira que mais é assassinada é a população “preta” nos aponta o Atlas da violência que a taxa foi 71.5, No ano de 2016, considerando somente os homicídios da população negra a taxa cresceu  40,2 mortes por 100 mil habitantes, contudo no mesmo período a taxa para a população branca foi de 16 mortes por 100 mil habitantes (2018,p,40), os números evidenciam a desigualdade social que existe no Brasil e o abismo racial que existem, entre negros e brancos.

Queremos aqui, fazer um recorte para determos no extermínio da juventude Negra.

No Brasil quem são  os ínvidos considerados jovens, vamos entender melhor do Prof Dr Luis Antonio Groppo.

Porém o conceito de Juventude não é tão fácil delimitação, os teóricos tiveram no início muita dificuldade em determinar, exatamente quais os critérios, para definir juventude. 

A definição seria etária, bio-psicológica?, qual seria a idade inicial  de juventude 14, 15 ou 17 anos de idade e seu termino seria 24, 25 ou 29 anos? segundo Groppo a definição ficou entre 15 e 29 anos de idade (2016, p.10), a mesma definição usada pelo estatuto da juventude do Brasil. 

usarei neste artigo a definição apontado por groppo e usada no Estatuto de juventudes (Lei no 12.852/2013). promulgada no Brasil em 2013. Contudo, não existe um consenso, mas existem outros critérios para definir o conceito, que não usarei aqui, mas outros pesquisadores que alargam a faixa etária de juventudes de 15 a 32 anos.

Adentrando  no assunto do extermínio da juventude negra nas periferias de nosso país, Há um  abismo existentente entre a população negra e a população branca no que refere as mortes violentas, mostraremos também os números referentes aos jovens, usando os mesmos parâmetros e abordaremos as causas desse processo. 

No ano de 2016, foram assassinados no país 3.590 jovens entre 15 e 29 anos, em sua grande maioria do sexo masculino com taxa de 94.6% representando um aumento de 7,4% comparado ao ano de 2015. Neste mesmo período o Estado do Pará obteve aumento de 15% na taxa de homicídios entre os jovens, nesta mesma faixa etária. (Atlas da violência 2018, p.32). 

A taxa média de homicídios no Brasil entre os jovens em 2016, foi de 65,5% em cada 100 mil habitantes, e no Estado do Pará foi de 98,0% por cem mil habitantes sendo a 7º unidade da federação que mais mata jovens no País.

 Quando comparados os índices de (2006 a 2016) O Estado Paraense obteve aumento 103,7% de homicídios em sua população de jovem em cada grupo de 100 mil habitantes, registrando em 2006, dois mil e setenta e três homicídios (2.073), e no ano de 2016 quatro mil duzentos e vinte e três mortes. (4.223), (atlas da violência 2018, p. 27).

Quando observamos a taxa de letalidade dos jovens entre 15 e 29 anos do sexo masculinos estes números são mais alarmantes elevando a taxa média brasileira para 122,6 em cada grupo de 100 mil habitantes e no tocante ao estado do Pará a taxa é de 181,3 em cada grupo de 100 mil habitantes mantendo a 7º posição do estado da federação que mais vitimou jovens no ano de 2016, ficando acima da média brasileira, notamos que 16 unidades federativas ficaram acima da média do Brasil.(atlas da violência 2018, p.35)

Abordando os homicídios dos jovens e levando em conta somente o universo masculino no período de (2006 à 2016) a média de mortes no Brasil aumentou 23,3%. Enquanto em igual período o estado do Pará aumentou 91,2% ficando 4 vezes maior que a média brasileira.

O Jovem negro no Brasil tem 2,7% de possibilidade de ser vítima de homicídio  que um jovem branco, apontou ainda, que as principais vítimas de mortes letais praticados pela polícia majoritariamente, eram de negros, cerca de 76,2% de um universo de 78% onde não havia identificação de raça e cor, chegaram ao número e depois de analisar 5.896 boletins de ocorrências policiais, os dados são do anuário brasileiro de segurança pública dos anos de 2015 e 2016. (Atlas da violência 2018, p. 41)


“A conclusão é que a desigualdade racial no Brasil se expressa de modo cristalino no que se refere à violência letal e às políticas de segurança. Os negros, especialmente os homens jovens negros, são o perfil mais frequente do homicídio no Brasil, sendo muito mais vulneráveis à violência do que os jovens não negros. Por sua vez, os negros são também as principais vítimas da ação letal das polícias e o perfil predominante da população prisional do Brasil. Para que possamos reduzir a violência letal no país, é necessário que esses dados sejam levados em consideração e alvo de profunda reflexão. É com base em evidências como essas que políticas eficientes de prevenção da violência devem ser desenhadas e focalizadas, garantindo o efetivo direito à vida e à segurança da população negra no Brasil”. (Atlas da violência 2018; p. 41)


Ao debruçarmos nestes elementos enumerados pelo atlas da violência de 2018, são dados que requer atenção acerca da  desigualdade racial no Brasil, e em especial no Estado do Pará onde os indicadores são sempre maiores que a média brasileira. Ao ilustrar o quanto a vida dos jovens negros brasileiros, em especial os Paraenses, estão vulneráveis a sofre violência letal e para corrobora com a análise trazemos dados do Índice de Vulnerabilidade Juvenil à violência 2017, (IVJ 2017) projeto da UNESCO com a Secretaria Nacional de Juventude do Brasil (SNJ).

Segundo o Índice de Vulnerabilidade Juvenil IVJ, no ano de 2015, foram assassinadas no Brasil 59,080 pessoas, deste contingente 31,264 eram jovens, percentualmente 54,1% dos homicídios. Dentre o universo dos homicídios de jovens 71% de pessoas eram negras, ou seja, quase 22 mil jovens negros são assassinados por ano, e deste percentual 92% é do sexo masculino. Toda violência tem o endereço certo, são jovens negros, entre 15 à 29 anos, oriundos das periferias e sem politicas públicas adequadas estão sujeitos a todos os tipos de vulnerabilidades  e consequentemente marcados para morrer sem condições de usufruir de uma vida plena. (IVJ; p.15), corroborando com dados apresentados a cima, mas também trazendo um elemento novo para o debate, o IVJ 

No IVJ 2017, ano base 2015, foi constatado que em quase todas as Unidades da Federação, as negras com idade entre 15 a 29 anos apresentam mais risco de exposição à violência que as jovens brancas na mesma faixa etária. O risco relativo de uma jovem negra ser vítima de homicídio é 2,19 vezes maior do que uma jovem branca. Entre as jovens e os jovens brasileiros de 15 a 29 anos, a chance de um jovem negro ser assassinado é quase três vezes (2,70) superior a um jovem branco na mesma faixa de idade. ( 2017, p.15)


Os dados acima elencados nos aponta a taxa média de um jovem negro ser vítima de homicídio é quase três vezes maior que de um jovem branco e quando transferimos essa mesma possibilidade para o estado do Pará esse risco de vulnerabilidade aumenta para 4,2 vezes mais,  de um jovem negro sofre homicídio em terras Paraenses que um jovem branco. Portanto das 26 Unidades Federativa e mais o Distrito Federal o estado do Pará é a 9º Unidade Federativa mais vulnerável para um jovem negro.(IVJ p 29)

O Índice de Vulnerabilidade Juvenil IVJ, organizou uma tabela demostrando as 304 cidades do Brasil com mais de 100 mil habitantes, fornecendo os índices de vulnerabilidade juvenil e a violência nos municípios e demonstrando qual nível de violência os jovens estão submetidos. E para isso os critérios foram além da violência letal.

Usando os indicadores de educação, emprego, pobreza e desigualdade, violência letal foram divididos entre: homicídios e acidentes de transito. Na educação a percentagem de adolescentes e jovens que não frequentam a escola, emprego é inserção precária no mundo do trabalho, no ultimo item nível de escolaridade, renda e existência de assentamentos precários

Quadro 1: Variáveis selecionadas para compor o IVJ – Violência 2017, Ano base 2015

 

Dimensão Indicador Componentes peso

Violência entre os jovens Y1 Indicador de homicídios na adolescência de 15 a 18 anos IHJ 0,33

  Indicador de homicídios entre os jovens de 19 a 24 anos IHJ1 0,33

  Indicador de homicídios entre os jovens de 25 a 29 anos – IHJ2 0,33

  Y2 Indicador de mortalidade por acidentes de trânsito na adolescência (15 a 18 anos) – IAA 0,30

  Indicador de mortalidade por acidentes de trânsito entre os jovens de 19 a 24 anos – IAJ1 0,30

  Indicador de mortalidade por acidentes de trânsito entre os jovens de 25 a 29 anos – IAJ2 0,40

Frequência escolar e situação de emprego Y3 Proporção de jovens de 15 a 18 anos que não frequentam escola (EMP1) 0,33

  Proporção de jovens de 18 a 24 anos que não trabalham e não estudam (EMP2) 0,33

  adolescentes e jovens de 15 a 29 anos com inserção precária no mercado de trabalho (no total dos jovens ocupados) (EMP3) 0,33

Pobreza no município Y4 Proporção de pessoas com renda familiar per capita inferior a um meio do salário mínimo (POB1) 0,50

    Proporção de pessoas de 25 anos e mais com menos de oito anos de estudo (POB2) 0,50

Desigualdade Y5 Proporção de domicílios localizados em assentamentos precários (aglomerados subnormais) (DESI2) 0,50

  Proporção de pessoas de 25 anos e mais com mais de 11 anos de estudo 0,50


Fonte: (1) Nota: nesta edição do IVJ-V utilizou-se como proxy da variável “domicílios localizados em assentamentos precários’”, a variável “domicílios localizados em aglomerados subnormais”, definido como o conjunto de no mínimo 51 unidades habitacionais (barracos, casas etc.) carentes, em sua maioria de serviços públicos essenciais, ocupando ou tendo ocupado, até período recente, terreno de propriedade alheia (pública ou particular) e estando dispostas, em geral, de forma desordenada e densa.

.O s municípios foram divididos em cinco grupos  denominados a saber:

Baixa vulnerabilidade juvenil a violência( 0,300) 

Baixa media vulnerabilidade a violência ( mais 0,300 a 0,370)

Media vulnerabilidade a violência (mais 0,370 a 450)

Alta vulnerabilidade a violência (mais 0, 450 a 0,500)

Muito alta vulnerabilidade a violência (mais de 0,500)

 No estado do Para faram analisados 15 municípios, sendo os munícipios de Altamira e Marituba ficaram nas lista dos muito alta vulnerabilidade a violência para os Jovens sendo Altamira o segundo(2º) e Marituba o quinto(5º) no ranking  dos dez mais vulneráveis (IVJ2017 p, 53)ao listarmos as trinta cidades com a alta e muito alta vulnerabilidade juvenil a violência encontraremos os três primeiro municípios da região metropolitana Marituba 5ºmunicipio  com muito alta, Ananindeua  15º com taxa muito alta e Belém em 30º com taxa alta, ainda encontraremos dentro desta faixa altamira, Parauapebas e marabá e logo abaixo destas cidades Castanhal com taxa alta de vulnerabilidade a violências de jovens. Mas queremos nos concentrar mais especificamente nos três primeiros municípios região metropolitana de Belém pois entendemos existir elementos que importante para intendermos essa muito alta taxa de vulnerabilidade juvenil, um dos elementos e a ausência de políticas públicas voltadas para juventude destes três municípios, ao pesquisar o plano pluri anual desta cidades notamos que a juventude está totalmente descoberta no que se refere a projetos e politicas voltados para esse públicos isto se falando de toda a juventude o descoso e maior no recorte raça e cor, se não tem nada de verba destinados no ppa não tem como essa parcela da população ser assistida o outro fator de risco que aumenta a vulnerabilidade nas periferias Belém, Ananindeua e Marituba é a atuação da milícia, fazendo papel de uma suposta higienização das cidades    exterminando  da juventude negra nas periferias destes três municípios, pois estes jovens estão fora do padrão normativo da sociedade do ser humano universal.

Foram, portanto as circunstancias históricas dos mediados do século XVI, que forneceram o sentido especifico a ideia de raça. a expansão econômica mercantilista e a descoberta do novo mundo forjaram a base material a partir da qual a cultura renascentista iria refletir sobre a unidade e a multiplicidade da existência humana. Se antes deste período o ser humano relacionava-se ao pertencimento a uma comunidade política ou religiosa, o contexto da expansão comercial burguesa e da cultura renascentista, abriu as portas para o moderno ideário filosófico que mais tarde transformaria o homem europeu no homem universal. (Almeida 2018; p 20)

 E esse homem universal o ideário que permitiu a europeu escravizar os negros porque não eram humanos e sim selvagem nas palavra de Hegel sobre os africanos seriam:

“Sem historia, bestiais e envoltos em ferocidades e superstição”

“As referências a “bestialidade” e “ferocidade” demonstram como a associação dos seres humanos de determinadas culturas/ características físicas como animais ou mesmos insetos   é uma tônica muito comum do racismo e portanto do processo de desumanização que antecede práticas discriminatórias ou genocídios até hoje”  (almeida 2018 p 22 e 23)



E toda essa carga discriminatória ainda em nossa atualidade como herança de 300 anos de escravidão do negro em solo brasileiro, o brasil foi o último país do mundo os negros escravizados, a ausência de políticas públicas para o jovem o extermínio da juventude negra pela milícia é racismo entranhado em nossa sociedade e nas nossas instituições que sempre foram ocupadas por aqueles que forjaram ainda as leis que excluem os negros do processo de construção de igualdade do brasil.

 As chacinas ocorridas na região metropolitana de Belém referentes a juventude negra e periférica que são reflexos deste período escravocrata brasileiro e o racismo entranhado em nossa sociedade, nas instituições mascarado pelo dito combate as drogas, mas que na verdade é um problema estrutural de nossa sociedade que precisa ser levado a sério e debatido por todos e em nossa analise estas chacinas esta relacionadas a essa questão aqui também na Amazônia.

Ao na tarde de primeiro março de 2018 ao acessarmos a internet nos deparamos com a seguinte notícia, em um jornal online da cidade de Belém: “Chacina em Belém. Sete jovens executados na periferia na tarde desta quinta-feira. Segundo testemunhas, eles foram mortos por integrantes de um carro prata”. Carro prata é sinônimo de milicianos em nossa região metropolitana, Antes desta tarde trágica de primeiro de março de 2018, já havia ocorrido pelo menos mais três chacinas na Região Metropolitana de Belém - RMB. 

Uma nos dias 04 e 05 de novembro de 2014, resultando na morte de 10 jovens, em cinco bairros diferentes, das cidades da RMB. Estes, assassinados pelo que se suspeita, por causa da morte do cabo da policial militar Antônio Marcos da Silva, chamado de PET. 

Outra ocorreu no dia 20 de janeiro de 2017, na qual a polícia registrou 30 homicídios, sendo 25 com características de execução. Desta vez, ocorreram em 17 bairros da região metropolitana, em ocorrência novamente após a morte do de um policial militar, agora da ROTAM - Rafael da Silva Costa.

Uma terceira chacina ocorreu em 04 de maio de 2017. Nela, foram executados a tiros 5 jovens no bairro Eduardo Angelim e no Distrito de Icoaraci.

, por fim, E no dia 6 de junho de 2017 foram assassinadas 5 cinco pessoas em um bar no bairro cremação. Todos Jovens negros da periferia mortos com característica de execução em um período curto de três a quatro anos. 

Essas foram as chacinas veiculadas pelos jornais. Mas todo dia tem jovem negro sendo assassinado na periferia e nos finais de semanas os números aumentam. Agora mesmo, este ano carnaval 2018 em 6 dias foram assassinadas 78 pessoas na Região Metropolitana de Belém. Em sua grande maioria morte de jovens homens negros da periferia. Esses números demonstram a existência de uma grande desigualdade racial na região metropolitana de Belém e as chacinas  um instrumentos medidor do racismo estrutural existente nos municípios de Marituba, Ananindeua e Belém, pois não existe nenhum registro de chacinas nos bairros nobres de Belém como Nazaré, nunca se foi noticiado que a milícia ou carro prata que costumeiro associar tenha invadido um condomínio de luxo e tenha assassinados vários jovens brancos e afortunados de nossa cidade, o que notamos é a impressa encobrindo algum delito acometido por jovens da classe alta  como foi o caso  do crime de trânsito cometido filho Romulo Maiorana Jr que embriagado e em alta velocidade bateu em cinco carros e vitimou duas pessoas uma jovem de 19 anos e um senhor que foi socorrido mas não resistiu aos ferimentos e feio a óbito( Lucio Flávio pinto , a agenda amazônica de um jornalismo em combate em 27 de setembro de 2018) os grandes jornais de circulação da cidade nada noticiaram encobrindo tal acontecimento. 

Mas as mortes dos jovens negros nas periferias são noticiadas não como denuncia, de modo sensacionalista e com desdém, e estes meios de comunicação, noticiam afirmando sempre que a morte desses jovens são acertos de contas e fica por isso mesmo. Mas os jovens negros estão gritando por socorro nas periferias e seus pais, quando ainda os tem, estão chorando suas mortes. Parece-nos que a escravidão ainda não terminou em nosso país. Os negros vivem jogados nas senzalas deste mundo moderno.

Acostumamo-nos a ouvir que não existe racismo no Brasil. O pior é que acreditamos. Mas o que todos esses vitimados na periferia da Região Metropolitana de Belém têm nos mostrado é a existência de um   racismo velado? Um genocídio da população negra que muitos não querem enxergar.

 A situação é tão alarmante que não tem como ignorar: os números estão aí para que todos vejam e façam suas análises.  Será que não existe um grande problema no Brasil que não diz respeito somente ao negro e à negra?

 Existe e diz respeito a toda a nossa sociedade brasileira. Porque não é algo que se resolve com uma simples política pública! Não que elas não sejam importantes, já que seria um começo de reconhecimento das enormes desigualdades existentes. Mas, de fato, é preciso que se reconheça que existe um problema de racismo ‘mascarado’, que é muito grande, que é estrutural em nossa sociedade e que está enraizado em nossa história. É preciso fazer discursões amplas, fóruns e combates maciços, neste sentido, para descontruirmos esse problema fundante no Brasil.

Pedro Borges 2017

40 mil pessoas ao ano são assassinadas de um único grupo racial, que a população carcerária 61,6% é composta por esse mesmo grupo racial e que em estados como Acre e Amapá esse número passa 80%, segundo a FIOCRUZ 65,9% das mulheres mortas por violência obstétrica compõem esse mesmo seguimento esses números colaboram para a construção daquilo que os teóricos chamam de genocídio negro no Brasil.

o Atlas da violência 2017 aponta que entre 2005  2014 mais de 318 mil jovens foram assassinadas no Brasil.  Somente em 2015 foram 31.264 jovens 92% são homens, na faixa de 15 a 29 anos. 

A cada 100 pessoas assassinadas no Brasil 71 são negras. Segundo o Atlas, os negros têm 23,5% chances de serem assassinados, em relação a outras raças no país. A taxa de homicídios de pessoas negras aumentou 18,2% entre 2005 a 2015, enquanto, no mesmo período, a taxa de homicídios de não negros diminui em 12,2. 

Entre as mulheres, este mesmo fator se repete 4.621 mulheres foram assassinadas em 2015, com uma taxa de 4,5 mortes por cada 100 mil. Mas quando se faz o percentual por raça, no âmbito feminino, entre 2005 a 2015, houve um crescimento de mortandade de 22% de mulheres negras e uma diminuição de 7,4% de mortandade de mulheres não negras, neste mesmo período, como aponta a pesquisa do IPEA.

Os números do IPEA corroboram com o artigo de Pedro Borges, no sentido de que existe sim uma violência sistêmica, com a qual é acometida a população negra, em especial os jovens de periferia; que também existe uma desigualdade racial enorme entre brancos e negros, presente no país. Uma desigualdade estrutural, que é marca incontestável da nossa história de escravocrata, refletida, ainda hoje, no que Borges chama de eugenia, ou seja, o desejo de branquear o Brasil.

Para Borges 2017, esse processo de branqueamento se dá por diversas vias de violência, que são utilizadas contra a população negra, como: o extermínio de jovens negros e negras; o encarceramento em massa da população negra; a política de guerra às drogas, em que o negro é o traficante; as violências sofridas por mulheres negras no sistema de saúde; e o apagamento das produções culturais e acadêmicas de e sobre a população negra.  

Não se pode mais adiar essa discursão no país. Os números mostram que há um sistema de eliminação da população negra, em curso, no Brasil, que afeta de modo especial os jovens negros. Como já foi comentado acima, este problema afeta a todos e deve ser pauta de toda a nossa sociedade brasileira. Precisamos arrancar as raízes dessa exclusão social e desse genocídio. Devemos quebrar as correntes que ainda prendem a grande maioria da população brasileira que são os negros e as negras do nosso Brasil. Não precisamos desta herança maldita da escravidão, ainda hoje marcando os corpos de negros e negras deste país.

 Adão 2017 sua dissertação de mestrado “Territórios de morte: raça e vulnerabilidade social na cidade de São Paulo” nos diz que o genocídio de negros e negras no Brasil não é algo pontual, fatídico, mas um processo construído historicamente. As políticas de exclusão do pós-abolição, que prejudicaram o acesso da população negra aos recursos da sociedade como terra e o mercado de trabalho, articuladas a segregação social e urbana, construíram as bases das condições de extermínio. É um processo que não findou, visto que as periferias configuram-se como territórios de produção e reprodução de morte.

Nas palavras do poeta: nego nago

Balas perdidas 

Onde tem balas perdidas?

Bala perdida na cidade é coisa de perifa 

As balas perdidas da cidade sempre encontram um corpo preto 

As balas perdidas da cidade sempre encontram um corpo jovem 

As balas perdidas da cidade sempre se alojam no corpo pobre

As balas perdidas da cidade quando se encontra, uma vida se esvai 

A bala perdida entra a vida sai, quando ele chega na perifa há sempre um corpo que cai

É mesmo bala perdida?

Nego nagô.(blog viajando nas ideias, nego nagô pejoteiro)


Bento e Beghim 2005 nos falam que há uma equação bem conhecida, conjugação perversa de diversos fatores tais como:

Racismo, pobreza, discriminação institucional e impunidade contribuem para a falência do sistema de segurança e justiça, em relação à população negra. Essa relação não é fruto do acaso: distorções como a “presunção de culpabilidade” em relação aos negros resultam em ações que promovem a eliminação pura e simples dos suspeitos, violando direitos humanos e constitucionais desses jovens. Ações que tão recorrentes e banalizadas denunciam a esse processo silencioso de eliminação desse grupo da população (BENTO e BEGHIM, 2005

Na Região Metropolitana de Belém retrata-se bem essa realidade que sente se vê a em nível nacional. Os assassinatos destes jovens negros na periferia da metrópole nos mostram que o resultado da discriminação escravização, ocorrida no passado se faz muito presente, mantendo uma cadeia de discriminação naturalizada também aqui na Amazônia.

O Pará tem uma das cidades mais violentas do país que é Altamira segundo o mapa da violência 2018, mas as cidades da RMB não ficam longe. Esta região paraense espelha e é retrato dessa herança da qual a professora Adão  fala: Uma herança escravista que legitima um processo ativo de preconceitos e estereótipos raciais e que mantém os privilégios dos brancos governantes da nação, além da permanência das desigualdades. 

Essa questão é fundante da herança do racismo e notadamente um problema estrutural, e (não se pode falar de caso fatídico e de fato isolado. Dever-se fazer um amplo debate e processo de desconstrução dessa herança escravista, para termos parâmetros de igualdades e garantias de direitos iguais, fazendo com que os iguais sejam tratados como iguais e os desiguais tratados como desiguais para termos uma nação coesa e verdadeira. Beghin  destaca outras consequências, causadas pela discriminação e desigualdade racial:

por um lado, naturaliza-se a participação diferenciada entre negros e brancos nos vários espaços da vida social, reforçando a estigmatizarão sofrida pelos negros, inibindo o desenvolvimento e o potencial de suas habilidades individuais e impedindo o usufruto da cidadania por parte  dessa parcela da população brasileira, a qual é negada a igualdade de oportunidades que o país deve oferecer a todos. Por outro lado, o processo de exclusão vivido pela população negra compromete a evolução democrática do país e a construção de uma sociedade mais coesa e justa. Tal processo de exclusão fortalece as características hierárquicas e autoritárias da sociedade e aprofunda o processo de fratura social que marca o Brasil contemporâneo. (BEGHIN apud: IPEA políticas sociais – acompanhamento e análise, 11/ago/2005) 

O mais trágico de todo esse processo de discriminação, da qual a Região Metropolitana de Belém é um retrato fiel desta triste realidade, é que a maioria destas mortes não tem investigação e não se chega a seus executores, como se estas vítimas fossem pessoas de segunda categoria, sem importância e, talvez, nessa lógica, nem sejam pessoas. Esse pensamento está tão incutido no pensamento da grande massa da população, que se ouve muitos dizerem que foi apenas mais um, ou que bandido bom é bandido morto. Mas nunca se quer realmente saber o que houve. A maioria destes casos fica sem solução na justiça, exemplo disso é que de todas as chacinas acimas elencadas somente a de 2014 é aquela que está com o processo avançado, tendo dois ex-policiais militares já condenados pelas mortes dos nove jovens. O restante das mortes está impune. 

Há uma enorme tarefa de empoderar os negros e as negras para este trabalho de abrir frentes de debates amplos para com a sociedade brasileira, a fim de que se reconheça o racismo estrutural. Chamar todos para a discursão desse grande problema e garantir os direitos desses brasileiros e brasileiras, que foram sempre excluídos por esse processo histórico.

Muito já se tem avançado nesse sentido, mas precisamos dar passos mais fortes e mais largos para esta efetivação. Sempre movidos pela e na esperança de um país justo e coeso para todos, onde as oportunidades não sejam determinadas pela cor da pele. Ouve-se muito dizer que não há raça negra ou raça branca e que o que, de fato, existe é o ser humano. Isto, no fundo é verdade, porém, enquanto não forem equalizadas as desigualdades e as diferenças  entre negros e brancos, existe sim raça negra (a raça, enquanto existir a desigualdade?). Ela precisa de uma vez por todas ser incluída no projeto de nação, por esse país tem muitas contribuições advindas dos povos africanos, dos quais vieram os negros e as negras que foram traficados para cá e aqui construíram a riqueza de nosso Brasil. Agora, seus descendentes têm o direito de usufruir dos benefícios dessa riqueza, para que negros e negras possam viver sem medo e com dignidade.

Considerações finais 

Os números nos mostram a existencial de um abismo racial no Brasil fruto de uma desigualdade racial que o País deve primeiro reconhecer a existência, para poder procurar soluções para o problema que desde o início como estrutura de nossa sociedade, herança de um passado escravocrata.

O estado do Pará como parte da federação trás impregnado a mesma estrutura racista, precisa urgentemente reconhecer como pauta prioritária como uma a busca de soluções eliminar do estado a estrutura de necropolitica como pratica, pois é latente   a desigualdade racial existente no Estado, chamando para a discursão vários atores de nossas sociedades e principalmente os jovens negros com atores desta tomada de decisão já que os índices dos estados e maior que a média brasileira 

Não tem como negar que tanto no Brasil quanto na região metropolitana de Belém existe uma pratica de extermínio das juventudes negras que precisa ser pautada seriamente.

As chacinas da região metropolitana de Belém é claramente um elemento de racismo estrutural existente na região como herança do período escravocrata e com berço forte da presença europeia na região. não podemos fechar os olhos para essa realidade, é continua na estrutura das cidades da região metropolitana a mesma pratica do coronéis onde os negros só tem direito a trabalho e chicote, trazendo para realidade de hoje os jovens pretos da periferia de Belém só tem direito a fome, trabalho e bala.

estamos parece no tempo do império onde a maior parte da população eram de pretos escravizados e sem direitos, hoje os jovens negros são a maioria dos Jovens desse pais e ainda vivem sem direitos só lhes falta os grilhões. 



Bibliografia 

ADÃO, Claudia Rosalina. Territórios de morte: homicídios, raça e vulnerabilidade social na cidade de São Paulo. A luta contra o racismo no Brasil/ org. Dennis de Oliveira. São Paulo: Edições Fórum, 2017.

GROPPO, Luís Antônio, Juventudes, sociologia cultura e movimentos 2016

ALMEIDA, Silvio; O QUE RACISMO Estrutural 2018,

INSTITUTO DE PESQUISA ECONÔMICA APLICADA, IPEA. BENTO, Maria Aparecida Silva: BEGHIN, Nathalie. Juventude Negra e Exclusão Radical in Políticas Sociais, acompanhamento e análise. 2005

MOURA, Clovis. Dialética Radical do Brasil Negro. 2º edição. São Paulo: Editora Anita Garibaldi, 2014. IBGE. Síntese de indicadores sociais: uma análise das condições de vida da população brasileira 2010. Rio de Janeiro. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, 2010.

PINTO, Lucio Flávio, a agenda amazônica de um jornalismo em combate do dia 27/09/2018 

BORGES, Pedro https://www.almapreta.com/editorias/realidade/existe-genocidio-negro-no-brasil

 

Atlas da Violência 2018

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IVJ – Índice de Vulnerabilidade Juvenil à Violência 2017 ...

www.forumseguranca.org.br/.../indice-de-vulnerabilidade-juvenil-a-violencia-2017-d...


Atlas da Violência 2017 mapeia os homicídios no Brasil - Ipea

www.ipea.gov.br/portal/index.php?option=com_content&view=article&id...

viajando nas ideias

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G1 - Chacina em Belém completa dois meses e famílias pedem justiça ...

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Operação da polícia falha em dia de 7 mortes na RMB - Polícia | DOL ...

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Jornal Hoje - Belém registra a quarta chacina do ano com cinco ...

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